segunda-feira, 2 de julho de 2012

GRD TransMalcata: Foios - Senhora do Bom Sucesso
e Serra das Mesas

Em Janeiro passado, participei numa caminhada no Canhão Cársico da Ota, com um grupo de amantes da Natureza que conheci na altura. E logo nessa caminhada surgiu a ideia de os trazer, a eles e a outros ... às "minhas" terras raianas. Amantes também das caminhadas longas, testando os limites, o esquema que desde logo comecei a arquitectar para este grupo foi o de uma GRD  - Grande Rota Dura - que atravessasse a "minha" Malcata, qualquer coisa que ultrapassasse os 30 km. Na minha habitual "família" caminheira, já em Junho de 2007 havia levado um grupo restrito, em actividade extra, numa TransMalcata entre Vale de Espinho e a Carreira de Tiro da Meimoa. E as minhas várias travessias da serra permitiam gizar facilmente uma grande rota a concretizar com estes "aventureiros".

Junta de Freguesia de Fóios desde cedo se aliou a este projecto, disponibilizando a camarata instalada na antiga Escola Primária para o alojamento do grupo ... e não só. E assim nasceu, portanto ... a GRD TransMalcata, Foios - Senhora do Bom Sucesso. Quinze participantes, comigo ... dos quais eu só conhecia pessoalmente oito ... incluindo um Fojeiro.
Foios, 30.06.2012 - antiga Escola Primária
Vamos entrar na Reserva da Serra da Malcata
Poucos minutos passavam assim das seis da manhã de sábado quando iniciámos a rota, junto à Escola e ao campo de jogos de Fóios. O Côa foi naturalmente o primeiro elemento a despertar a atenção das máquinas fotográficas, no sítio da Cama Grande. As águas corriam céleres ... e céleres nós iniciámos a subida em direcção à casa florestal do Canto da Ribeira e à raia. Rapidamente deixámos o caminho para Valverde del Fresno; com 8,3 km feitos numa hora e três quartos, estávamos no vértice fronteiriço junto ao Cabeço do Clérigo (ou do Crelo), onde a raia se cruza com o limite entre as Beiras. À direita ... lá estava o caminho para a "minha" Vale de Espinho!
Vamos atravessar o Côa!
Geodésico do Clérigo (ou Crelo), 1015m alt.
E a linha de raia continuaria a ser o nosso percurso, agora para sudoeste. Já perdi a conta a quantas vezes ali passei, a pé, de bicicleta ... ou de "burro"; onde andará o meu velho "burro", o meu velho UMM...? A Marvana destacava-se como sempre no horizonte, recordando-me a jornada em que vi nascer o Sol por alturas da Pedra dos Namorados e da Ladeira Grande, em Janeiro deste ano. E junto ao geodésico da Ladeira Grande, um ligeiro desvio de rota obrigou-nos a um troço de corta mato que não estava no programa...J. Durante meia hora, andámos embrenhados numa autêntica "selva" ... para percorrer cerca de 500 metros! Pragas que as fragas tecem...J.
No meio do mato! Aqui houve um ligeiro desvio de rota...J
O nosso "abre-mato" vai agora à frente
São agora nove e cinquenta. Temos 14,5 km percorridos e iniciamos a descida para o vale do Bazágueda, para a Quinta do Major, coração da Malcata. E foram precisamente as margens do Bazágueda que escolhemos para o almoço ... às dez e meia da manhã...J! O testemunho dos meus companheiros de jornada deixou-me a sensação ... de que não sou só eu a achar aquele um dos locais mais maravilhosos e "misteriosos" da Malcata.
Com a Serra da Marvana ao fundo
Paisagem típica da Malcata. Percebe-se o arco-íris!
Ribeira da Bazágueda, junto à Quinta do Major, no coração da Malcata
A Quinta do Major surgiu logo a seguir, perdida no fundo do vale e nas memórias desgastadas pelo tempo. Ainda em Fevereiro lá tinha estado, numa também longa jornada através da Malcata. E seguiu-se a vertiginosa subida ao Cabeço do Pão e Vinho, a partir do Ribeiro da Casinha, inflectindo depois definitivamente para sul sensivelmente aos 20 km de jornada, rumo aos geodésicos das Ginjeiras e das Revoltas. E se a subida ao Pão e Vinho foi vertiginosa ... a descida das Revoltas para a Ribeira da Mouca e de novo para o vale do Bazágueda não o foi menos...J.
Na Quinta do Major, "perdida" no coração da Malcata e perdida nas memórias de um tempo distante
Junto ao Ribeiro da Mouca, afluente do Bazágueda
O sítio do Moinho do Pinheiro, à beira do Bazágueda, teve para mim um significado especial: foi a primeira vez que ali passei, após o desaparecimento da "ti" MariZé Salgueiro, que conheci em Abril de 2006 e que várias vezes visitei. Viúva, ali viveu sozinha com as suas cabras e cães, fazendo deliciosos queijos de pura cabra. Era o exemplo vivo de uma gente simples, que dorme em paz e sem sonhos ... por quem Freud jamais teria existido e inventado a psicanálise! Mas fiquei satisfeito de saber que a sua memória se perpetua num seu sobrinho, que lá encontrámos e que de certo modo a substituiu.
Sítio do Moinho do Pinheiro: com as suas cabras e cães, aqui viveu a "ti" MariZé Salgueiro, única habitante da Malcata
Perdidos no meio dos "fieitos", junto ao Bazágueda
À beira do Bazágueda durante mais de dois quilómetros, próximo das Quelhinhas começávamos já a avistar a Serra do Ramiro, a barragem do Bazágueda ... e a Ermida do Bom Sucesso, nosso destino! Às três da tarde e com 31,3 km percorridos estávamos a cruzar a estrada Penamacor - Valverde. Faltavam pouco mais de 4 km, passando ainda na barragem do Bazágueda. A beleza que em Janeiro deste ano me encantou nas suas margens, estava contudo agora grandemente reduzida, fundamentalmente pela seca que temos vivido.
Junto às margens do Bazágueda
Obras primas de
seres tão simples!
E surge a Barragem do Bazágueda e a Serra do Ramiro. O destino já não estava distante.
Barragem da Bazágueda
Passavam poucos minutos das 4 da tarde quando chegámos à Ermida da Senhora do Bom Sucesso ... que nos deu sucesso para a nossa "aventura" TransMalcata...J. Dez horas depois de iniciada a travessia, atingimos o objectivo, com 35,4 quilómetros percorridos. E a receber-nos tínhamos ... o redactor do jornal "Cinco Quinas", do Sabugal! A nossa GRD já é aliás notícia...J!
Chegada do grupo à Ermida da Senhora do Bom
Sucesso (Fotos: Rui Monteiro, "Cinco Quinas")
Regressados a Fóios, o Presidente da Junta de Freguesia fez questão de receber o grupo no Centro Cívico local, com um bem recebido beberete. E, como é preciso repor energias ... a componente gastronómica não foi esquecida, no jantar que fechou o longo dia de travessia.
Foios, 30.06.2012 - A caminhada terminou ... com um bem merecido jantar para repor energias...J
Ontem, domingo, a TransMalcata foi complementada com um percurso bem mais curto, mas nem por isso menos apreciado pelos participantes. A Serra das Mesas foi o destino de uma caminhada circular, que levou o grupo às alturas da nascente do Côa, ao geodésico das Mesas, Cancheira do Lameirão, Carambola e Barrocos Negros, às ruínas da antiga Caseta de Carabineiros, ao Barroco Rachado e Barroco Redondo, regressando à Portela do Lameirão. Como sempre, as panorâmicas destas alturas graníticas são soberbas. A nascente, o "meu" Xalmas destacava-se imponente; a poente, ao fundo ... a "minha" Vale de Espinho.
Serra das Mesas, sobre Fóios, 1.07.2012, 9:55h - A nascente do Côa é o mote da 2ª caminhada
Disjunção do granito, junto à nascente do Côa (à direita)

RIO SAGRADO >
No ventre das Mesas
ouviu-se um gemido
de um ser que quis nascer
e correr serra abaixo ....
(Bernardino Henriques, “Poemas da Terra”, 2009)

Rumo ao geodésico das Mesas, já em terras castelhanas
Panorâmica do cume das Mesas (1260m alt.)
Cancheira do Lameirão
No "Santuário da decapitação"...J
(Fotos: José Manuel Messias)
À conquista da Carambola
Será o Viriato e os seus companheiros de armas?...J
Vêm aí os "contrabandistas"...J
Ruínas da antiga Caseta dos Carabineiros
Pé esquerdo em Espanha, pé direito em Portugal!
No Barroco Redondo, um dos mais emblemáticos da Serra das Mesas (Foto: Florbela Mendes)
Do Lameirão, Fóios ... com Vale de Espinho à vista
No fim da caminhada, mais uma vez, o Presidente da Junta dos Fóios lá estava a receber-nos ... desta vez com um bem apreciado Porto, oriundo das terras de Foz Côa. Estabelecia-se assim uma simpática relação entre a nascente do Côa, cuja água havíamos bebido, com a foz do Côa.
Uma simpática recepção ... com "água" da Foz do Côa...J (Foto: Florbela Mendes)
Como a caminhada de hoje contou também com a participação de dois filhos de Vale de Espinho – um deles a minha pequena arraiana – e como eu próprio sou "filho adoptivo" de Vale de Espinho, o grupo fez ainda questão de se fotografar junto ao chafariz das Eiras, em Vale de Espinho. Bem pena tive que não houvesse tempo para uma visita mais demorada.
O grupo de "aventureiros" junto ao chafariz das Eiras, Vale de Espinho
E este belo fim de semana terminou na "TrutalCôa", onde todos se deliciaram com a deliciosa truta no forno. Depois, foram as despedidas ... com a promessa, minha e deles, de um dia voltarem.
Final gastronómico...J
Fiquei com a muito boa sensação de que todos gostaram ... e eu adorei tê-los recebido e "guiado", mas também adorei o ambiente de convívio, brincadeira, amizade e sã camaradagem que todos vivemos! É este o tipo de pessoas que eu gosto de encontrar, com quem gosto de conviver! Gente que dá e recebe, gente que transmite o calor da partilha, gente que transmite o sabor da amizade, gente ... que dá sabor à vida! Obrigado, amigos!
Foios - Sra do Bom Sucesso, 30.6
Serra das Mesas, 1.07





1 comentário:

White Angel disse...

Fantástico!!

Belas fotos e descrição que deixa agua na boca... Com vontade de conhecer cada vez mais...

Beijinhos