quinta-feira, 5 de outubro de 2017

À (re)descoberta do Gerês profundo (1)

Quando em Setembro de 2011 encerrei a parte retrospectiva destes "instantâneos" - os meus primeiros "Quarenta anos por fragas e pragas..." - trouxe mais uma vez ao de cima a minha paixão por aquelas a que costumo chamar as minhas três "terras natais". Escrevi então, sobre mim próprio:
«Nos "paraísos perdidos" das suas serras e rios, nas suas três "terras natais", o nosso jovem, agora avô, continua a subir velhas bredas, a beber a água divina das fontes, a sentir a energia telúrica de escarpas e barrocos, a descer torrentes e ribeiras, a pulular de som e de vida … saltando as fragas.»
A Vale de Espinho, às terras do Côa, vou com alguma frequência; a Somiedo ainda em Junho lá estive; ao Gerês, ao meu amado Gerês ... há mais de dois anos que não ia! Até a mim me pareceu uma eternidade, ao constatar a passagem do tempo ... sem viver o Tempo! A última vez tinha sido em Março de 2015, quando parti em busca de um recarregar de baterias ... e quando vivi dois dias a ver a minha Mãe e um grande Amigo, acabados de partir, em cada corga, em cada estrela na imensidão da eternidade. Foi um Gerês com Alma, muita Alma ... guiados pela Alma de Montanhista, a grande mulher que um dia se entregou de Alma e coração àquelas serras, àquelas fragas, às rocas e às corgas, aos prados e currais do seu amado Gerês ... do meu amado Gerês!

Cabana do Vidoal (Fafião), 5.10.2017, 7h55 - Ia começar a (re)descoberta do Gerês profundo
Agora, dois anos e meio depois, as saudades do Gerês eram já muitas ... e fizeram nascer esta (re)descoberta do Gerês profundo. E assim se juntaram dez amigos, companheiros e companheiras de fragas e pragas. Salamonde foi a base para as duas primeiras incursões.
A nossa "White Angel", ou Alma de Montanhista, mais uma vez nos ia conduzir na serra dos seus amores ... tanto mais que está presentemente envolvida num projecto de actividades outdoor, a "Gerês sem limites", juntamente com outro amante e conhecedor dos segredos do Gerês. A partir de Fafião, o objectivo do feriado de 5 de Outubro era um local que, para este "rapaz pacato" que um dia começou a escrever as suas memórias, ainda permanecia secreto: Porta Ruivas, no coração do Gerês. E como a amizade não tem limites nem fronteiras, a Dorita e o Manel mobilizaram o amigo Fernando de Matos, fafioto permanentemente apaixonado pela sua terra e serra, para nos transportar até à cabana do Vidoal. Aí sim ... ia começar a "aventura", com as cores do jovem astro-Rei a pintarem a paisagem ... e a perspectiva de mais um dia de calor como os anteriores e os seguintes, neste Outono que teima em ser Verão.

Às cores do Sol recém nascido, caminhando para norte do Vidoal
Na imponência granítica do Gerês profundo, com o vale da Touça ao fundo e Porta Ruivas à direita
Debruçados sobre a Corga de Marcosende
Rumo ao Curral de Palma
Pouco depois das dez horas estávamos no curral de Palma, acima já dos 1100 metros de altitude. Mas a jornada seria um permanente sobe e desce. À nossa frente tínhamos agora o imponente vale da Corga de Valongo, para lá do estradão do Porto da Laje, a que era obrigatório descer. Apesar da seca que tem assolado todo o país, o vale de Valongo apresenta-se felizmente verdejante.

A partir do Peito de Mogos, debruçados sobre o estradão do Porto da Laje e a Corga de Valongo
Pouco depois das onze horas estávamos a cruzar a Corga Mão de Cavalo. Um pouco de água para amenizar o calor, onde até a Heidi se refrescou, a cadelinha que também já tem em si uma autêntica Alma de Montanhista. Seguiu-se a imponente subida a Porta Ruivas, pela face nascente, num sucessivo ziguezaguear à medida do qual os horizontes se iam abrindo.

Subida para Porta Ruivas e respectivo Curral, na última foto
Era uma e meia quando, após uns momentos de relax junto ao Curral de Porta Ruivas, iniciámos a subida à respectiva Meda, que com os seus 1299 metros de altitude domina os horizontes a quase 360º; só a norte e nordeste as alturas do Cantarelo, da Torrinheira, de Cidadelhe, nos impedem de ver os pontos mais altos do Gerês. Na Meda de Porta Ruivas ... cada um deu asas à imaginação.
Subida à Meda
de Porta Ruivas
Os "conquistadores" de Porta Ruivas (1299m) e o "rapaz
Don't dream your life
pacato" das fragas e pragas, c/ a "Gerês sem limites"... 😊
... live your dreams
Descida de Porta Ruivas para o Porto da Laje. A Heidi observa atentamente a paisagem magnífica!
O calor continuava. Lá em baixo, o rio da Touça evidenciava bem a seca prolongada. A própria albufeira do Porto da Laje ... nunca a tinha visto tão em baixo. Mas passava já das cinco da tarde quando lá chegámos, para iniciar o trilho ao longo do vale do Rio Toco, ou de Fafião.

Descida para o vale da Touça e o Porto da Laje
O imponente vale do Rio Laço
Albufeira do Porto da Laje
E as Sombrosas ficavam para trás...
18h45 - Com o dia a declinar, regressamos ao Vidoal, onde tínhamos começado quase 11 horas antes
Do Vidoal a Fafião tínhamos ainda cerca de 4,5 km pela frente. De manhã o Fernando de Matos tinha-nos levado. Agora não se justificava; em pouco mais de uma hora descemos até às desejadas "lourinhas", com as cores do pôr-do-Sol a transportar-nos para um país de magia ... a magia com que fui encontrar, no Café "Fojo dos Lobos" ... a Vieira e a Cabaça de Santiago! É que Santiago é o Santo padroeiro de Fafião, que todos os anos festeja o seu dia.

A caminho de Fafião, o Sol põe-se sobre as terras mágicas do Gerês ...
... e a Lua nasce,
imponente e misteriosa!
Café "Fojo dos Lobos", Fafião ... e Santiago acompanha-me sempre!...
Tínhamos percorrido 19 km ... em 12 horas! De Sol a Sol, ou melhor ... do Sol à Lua! A jornada tinha sido durinha, mas todos vínhamos de Alma cheia ... uma Alma de Montanhista. Um grande obrigado à Dorita, ao Manel ... e à Heidi. Os três fazem uma excelente equipa, que augura o melhor sucesso para a "Gerês sem limites". Ainda iríamos contar com eles no dia seguinte ... numa jornada muito mais soft.
(Continua)     

1 comentário:

Célitos da Montanha disse...

Olá José já vi este trilho uma duzia de vezes, pois de cada vez consigo caminhar com vocês neste Gerês agreste e profundo que tanto nos fascina. Mais uma vez um grande Abraço para si e para meus grandes amigos Manel e Dorita.