terça-feira, 30 de agosto de 2016

De Sintra à Praia Grande ... 34km / 1400m D+

No passado dia 12, estando eu ainda nas "minhas" terras raianas, a minha querida amiga Cristina - que há quase 4 anos se cruzou comigo entre dois castelos e que o Monte Perdido e o Caminho da Aventura transformariam em minha "irmã" - mandou-me uma mensagem que rezava assim: "Olá mano. Queria pedir-te para ires pensando num percurso em Sintra dia 30 ... Ideias que ando tendo..."; mas acrescentou ... "Ver o nascer do sol e acabar em jantar... J". Respondi-lhe : "Oi, querida Mana! All right, é com todo o Amor que irei engendrar um percurso para dia 30!".
Sintra, 30.08.2016, 6:10h - Começava cedo
uma longa jornada de aniversário...
Deste diálogo resultou portanto que, exactamente um ano depois da nossa partida para o جبل توبقال, nos reuníssemos no estacionamento do Parque da Liberdade, em Sintra. O propósito era uma actividade circular, com direito a ver nascer o sol e a terminar ... em jantar de aniversário. Neste mesmo dia do ano passado, comemorámos o aniversário da Cristina ... em Marrakesh. Quem não pudesse, ou não se achasse em condições de fazer a caminhada, apareceria só para o jantar, no fim da "aventura"!
E assim, às seis da manhã, começámos a "trepada" ao Castelo dos Mouros e ao Miradouro de Santa Eufémia. Mas começámos a duvidar de ver realmente o nascer do Sol, já que os mistérios de Sintra, neste final de Agosto, haviam reservado uma madrugada em que tudo se encontrava envolto em místico nevoeiro.

E dos bosques saíam brumas e mistérios...
Ermida de Santa Eufémia
Diz-se que há muitos, muitos anos, quando os bárbaros dominavam estas terras, habitava em Sintra uma princesa muito boa e generosa, de nome Eufémia, que se apaixonara por um rapaz humilde. O seu pai, um rei austero e conservador, sempre foi contra o amor dos dois apaixonados, que  acabaram por deixar de se encontrar. Entretanto, o rapaz foi atingido por uma doença na pele, que se alastrou a todo o corpo; a mãe do rapaz contou o sucedido à boa princesa, que ficou desolada. Eufémia levou então o seu amado ao lugar onde os dois costumavam encontrar-se e lavou-lhe todo o corpo com a água da fonte que ali existia; aos poucos e poucos o rapaz foi melhorando e, em pouco tempo, ficou curado. Como prova de gratidão, a princesa marcou o seu pé numa rocha; ainda hoje é visível a marca do pé e o local foi transformado num oratório. Ninguém sabe o que sucedeu aos dois apaixonados, mas a princesa ficou a ser adorada como Santa, a sua pequena imagem lá está na Ermida de Santa Eufémia e a água com que curou o seu amado é ainda por todos considerada como milagrosa!

Miradouro de Santa Eufémia, 7:05h - Seriam horas de ver nascer o Sol...
Santa Eufémia guardou bem os seus segredos, de tal forma que nem "Santa" Cristina conseguiu ver o nascer do Sol. Mas a fé inquebrantável dos cinco "aventureiros" acreditava no levantar dos mistérios e das brumas, o que se viria a verificar ... mas só depois da subida ao cume do enigmático Monte Rodel, que o Mano Araújo me dera a conhecer poucos dias antes do último Natal.

8:20h - o "mágico" Monte Rodel ergue-se nas brumas
Três Manos no cume do Rodel ...
e a aniversariante (à esquerda) com os seus
4 "guarda-costas"

x
Do Monte Rodel rumámos a sul, para o Rio da Mula, passando pela "Casa dos Espíritos Verdes". À semelhança de Dezembro passado, quando igualmente o Araújo ali nos levou, continuo a meditar sobre que histórias e mistérios guardarão aquelas ruínas, das quais não encontrei até agora nenhuma descrição.


Em busca dos Espíritos Verdes ...
A Mana tinha-me pedido uma actividade "durinha". Do Rodel, e dos "espíritos verdes", poderíamos ir mais ou menos directos à Peninha. Poder podíamos ... mas não era a mesma coisa... J". Pelo que, no traçado do percurso, incluí a descida do "trilho das pontes", rumo à albufeira do rio da Mula, para depois subir à Pedra Amarela. E muito contente fiquei quando soube que a minha Mana não conhecia o "trilho das pontes", que adorou... J. E às dez e quinze estávamos na albufeira.

Trilho das pontes e albufeira do Rio da Mula ... e entretanto o nevoeiro dissipara-se, na encosta sul da serra
Dos 150 metros de altitude do Rio da Mula ... voltámos aos mais de 400 na Pedra Amarela. Dali, a serra parecia como que sobrevoada por uma manta ondulante, que a cobria a norte e avançava timidamente para sul. Entretanto, em pouco mais de 15 km feitos ... já estávamos com quase 800 metros de desnível acumulado; e a jornada ainda prometia...

11:00h, Pedra Amarela ... e de norte vêm brumas que envolvem os segredos da Serra de Sintra...
A praia do Guincho e a encosta sul, essas estavam descobertas
À Pedra Amarela seguiu-se a Peninha, bastião imperdível em qualquer jornada pedestre na Serra de Sintra. A "manta" que cobria a face norte da serra como que abriu para nós à medida que nos aproximávamos, embora continuando a mostrar muito mais as terras viradas a sul.

12:00h ... e chegamos à mágica Peninha
Descer da Peninha para oeste pelo "trilho da viúva" é sempre qualquer coisa de espectacular; é imaginar fadas e duendes a saltarem daquele mundo verde ... ou, aqui sim, "espíritos verdes" a pulular. Cruzada a estrada Cascais - Sintra, rumámos agora à Quinta do Rio Touro e aos Moinhos da Azóia.

Descida do "trilho da viúva" e Tapada do Pacheco ... um mundo verde!
Um arranjo floral natural
13:00h - Rio Touro, quase nos Moinhos da Azóia
No Moinho Dom Quixote (ou Moinho da Azóia) ... apeteceu-nos fazer uma paragem para hidratar com umas "loirinhas". Já tínhamos 23 km percorridos ... e ultrapassado os mil metros de desnível...

Moinho da Azóia ... destes momentos
também se faz o dia...
A seguir ... vinha o troço do fabuloso litoral de Sintra, entre as Camarinheiras e o Cabo da Roca. Um permanente sobe e desce a acompanhar o mar, passando perto das ruínas do velho Forte do Espinhaço, a enseada do Assentiz, a Malhada do Louriçal. No Cabo da Roca ... tínhamos a habitual "recepção" pelas miríades de turistas de todas as nacionalidades que por ali deambulavam e se fotografavam.

No fabuloso litoral de Sintra, entre as Camarinheiras e a Ponta do Espinhaço
Enseada de Assentiz e ... Cabo da Roca à vista
O que eu andei para aqui chegar ...
... ups ... e o que falta andar para lá chegar... ;)
15:30h ... e cá estão os 5 "guerreiros", no ponto mais ocidental da Europa!
O Mano Zé Manel decidiu ficar-se pelo Cabo da Roca. Começava a ser tarde para regressar a Sintra e fechar uma caminhada circular de "longo curso", que era a ideia original; tínhamos um jantar de aniversário marcado para as oito horas...! Mas ... mais uns quilómetros ainda se fazem! Depois de mais uma "loirinha" e de nos despedirmos do Zé ... avançámos para a sempre mítica praia da Ursa e para a Adraga.

16:20h - O Cabo da Roca fica para trás ...
rumo à Ursa
Ei-la ... a sempre mágica e mítica Praia da Ursa
Para o interior ... Almoçageme e a Serra
17:15h - Descida para a Praia da Adraga
A caminho da Adraga, nasceu-nos a ideia de ir até à Praia das Maçãs e regressar a Sintra no velho eléctrico. Seria um fechar com chave de ouro esta caminhada em dia de aniversário. Mas uma consulta on the fly mostrou-nos que já não chegaríamos a tempo do último, às seis da tarde. Por isso, já que o Zé Manel tinha regressado de autocarro ... tínhamos chauffeur para nos ir buscar... J.

17:55h - Sobre a Praia Grande ... quase no final de uma grande jornada ...
... quando os raios de Sol furam o mar...
O reencontro foi, assim, na Praia Grande. Pela escadaria que dá acesso ao limite sul da praia e passando pelas pegadas de dinossauros ali existentes ... quase meia hora depois das seis da tarde estávamos a ser "recolhidos" de regresso ao ponto de partida.
18:35h - E chegamos à Praia Grande (Foto: José Manuel Messias)
A comemoração tinha marcado mais de 12 horas de "sobe e desce". Tínhamos palmilhado "apenas" 34 km. Mas, segundo a aniversariante ... há quilómetros que têm de ter um "factor de correcção" ... pela beleza da paisagem que proporcionam ... pela dificuldade do avanço no terreno ... pelo desnível. Ups ... quanto a este último tínhamos ultrapassado os 1400 metros acumulados! Mas a constatação mais importante ... é que estávamos todos satisfeitos ... a começar pela Mana Cristina. A "encomenda" que me havia pedido ... foi do inteiro agrado da "requerente"... J. Venham mais aniversários!
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terça-feira, 23 de agosto de 2016

De Vale de Espinho ao vale de Sobrero...
Com a Lua e as estrelas ... em busca de ti mesmo

O calor e a secura do verão não são convidativos às grandes caminhadas ... mas uma estadia na raia não seria a mesma sem uma "aventura" das minhas. E porque não ... uma autonomia?
Vale de Espinho, 20.08.2016, 21:00h
Em 2015, fomos dormir nas "nossas" Fontes Lares, eu e a minha arraiana. Mas há já muito tempo que no canto dos meus sonhos nasceu a vontade de uma noite em plena Malcata, na serra, mais longe da "civilização". Os pores-do-Sol, tanto quanto é possível ver de Vale de Espinho, têm estado magníficos. Anteontem ... as cores desta foto deram-me por isso ideias. Vamos ver o pôr-do-Sol ... o nascer da Lua ... e o nascer do Sol? Fiz a proposta à minha "velha" companheira da maior aventura de todas: a vida! Como eu previa, contudo ... preferiu ficar na casa da "branca de neve", como carinhosamente chamamos ao nosso "retiro" de Vale de Espinho. E por isso ... fui só. Disse-me o amigo Valespinhense Tó Maria Esteves, já depois do meu regresso, hoje ... "És apenas um caminhante, À procura de ti mesmo". Talvez seja isso mesmo!

Antes das seis da tarde de domingo, estava a deixar Vale de Espinho ...
... rumo à Lomba
E assim, à procura de mim mesmo, saí de Vale de Espinho pelo Cabeço da Ponte, rumo ao Coxino e à Lomba. Ao contrário do habitual, não levava nenhum plano estudado. O objectivo era, apenas, passar a noite num local onde pudesse ver o pôr do Sol e o nascer do Sol. A primeira hipótese seria o Cabeço do Clérigo, ou do Crelgo, como lhe chamam em Vale de Espinho. Mas, ainda do Coxino, já avistava para sul a eternamente misteriosa Marvana, com o morro de Monsanto a sobressair-lhe por trás.

Ao fundo a Serra da Marvana (1º plano) e o morro de Monsanto (2º plano). São 18:50h, no Coxino (1068m alt.)

Cruz da Lomba, 19:42h
19:57h - Cabeço do Clérigo (ou Crelgo), 1012m alt.: começam as cores do pôr do Sol
Do Clérigo, eu via toda a cumeada das Mesas às Torres das Ellas, por trás da qual o Sol haveria de nascer ... mas não via as colinas da Malcata, onde o astro rei se estava a recolher, tapadas pelo denso pinhal que ladeia o Ribeiro Grande. Por isso, avancei célere para sul, rumo à Escaleriña e ao alto dos Enamorados. A Serra da Estrela recortava-se já num horizonte pintado de vermelho.

20:12h ... e ele mergulha detrás dos pinhos e dos montes
Um adeus aos últimos raios de luz ...
... e a Serra da Estrela recorta-se no céu, que se vai cobrir de estrelas...
E foi na Escaleriña que montei a tenda, no cimo mesmo da Ladeira Grande, que desce para os férteis vales de Sobrero e de Pesqueiro. E ali estava, sozinho, na noite já escura e debaixo de um céu repleto de estrelas. Reconhecia-se a Cassiopeia, as Ursas Maior e Menor, a Via Láctea ... a "minha" estrada de Santiago! Pequenas luzinhas movimentavam-se no firmamento, por certo aviões, ou satélites. Depois, sobre as torres das Ellas, começou a surgir uma claridade. Como que prenunciando o Sol que haveria de nascer quase 8 horas depois ... essa claridade deu lugar a uma majestosa Lua, já não Lua cheia como dias antes, mas majestosa, elevando-se para iluminar o céu e a noite!

E aqui, sob as estrelas e a Lua ... foi o meu leito desta fabulosa noite de verão
22:30h - Nasce a Lua, grande e mágica, primeiro com
sombras a cobri-la, depois mais alta e mais limpa.
Embalado pelo cantar dos ralos e pelos ruídos da noite ... adormeci ... talvez sonhando que alguma das estrelas daquela viagem no tempo fosse a da minha mãe, ou, quem sabe ... do pai da minha pequena estrela arraiana, daquele que "vejo" sempre nas minhas deambulações nesta Malcata que é, seguramente, um pouco minha! Apenas um leve despertar nocturno (eram 3:50h) ... e quando acordei já havia luminosidade de um novo dia a despontar. O Sol ... tinha marcado encontro para 5 minutos antes das 7h

22.08.2016, 6:23h - Bom dia!

6:42h - Sobre o Espiñazo e as Ellas ... há uma luz que se anuncia ...
6:50h / 6:55h ... e aí vem ele, o rei Sol, imponente e em força!
7:00h - o jovem Sol ilumina as terras de Pesqueiro e da Marvana
Assim que o astro rei se ergueu, logo percebi que o dia iria ser um dos mais quentes. O que fazer? Onde ir? Apesar de dizer frequentemente que nestas "minhas" terras conheço todos os buracos, claro que existirão sempre cantos e recantos ainda desconhecidos ... como as ladeiras e o vale do Arroyo de los Enamorados, afluente do rio Sobrero. O nome refere-se, claro, aos amores proibidos de Fernando e Beatriz, cuja história já várias vezes contei nas "páginas" destas minhas memórias.

Quase uma hora depois: o fabuloso vale de Pesqueiro, coroado pela Marvana, à direita
Em dias de calor, a tarde nunca é aconselhável. O "pacto" que havia feito com a namorada (quase 43 anos de casamento não excluem que se continue a falar de namoro...) era, portanto, almoçar no nosso "retiro" de Vale de Espinho, pelo que tinha sensivelmente seis horas para a continuação da "aventura". Seriam suficientes, em princípio, para ir conhecer Los Enamorados e a sua foz no rio Sobrero e regressar pelo Piçarrão ou por Curral Fidalgo. Em princípio ... mas sem certeza; as cartas não mostravam uma passagem da foz dos Enamorados ao longo do Sobrero, apesar de toda aquela zona ser de velhos olivais e, portanto, previsivelmente, de fácil acesso. E por isso ... desci a ladeira...

8:20h - E desço às terras de Los Enamorados
A Ladeira Grande conduz às já velhas conhecidas terras da Florida, para sul. Mas, ainda a meia encosta, um pequeno estradão inflecte para nordeste e acompanha o vale do Arroyo de los Enamorados. Foi esse portanto que segui, à descoberta, sempre a descer ... esperando encontrar passagem. O estradão conduziu-me realmente a um primeiro olival, na margem esquerda dos Enamorados; mas era preciso passar a ribeira ... completamente rodeada por densos silvados! Na carta, uma variante ao estradão levava mesmo junto à foz dos Enamorados ... mas esse caminho, se realmente existiu, já foi engolido pelo pinhal e muitos fieitos daquelas encostas. Mesmo assim, guiado pelo GPS, deu para seguir o seu traçado; cheguei mesmo junto à foz dos Enamorados ... mas Fernando e Beatriz preferiram guardar os seus segredos num emaranhado intransponível de silvas e carqueja. Os bastões ainda funcionaram como arma de desbravamento. A poucos metros de mim, eu ouvia correr a água ... ou seriam as lágrimas abundantes daqueles que deixaram os seus amores para sempre ligados aos nomes destas terras? Do outro lado do arroyo e do Sobrero eram visíveis mais olivais ... mas aquele silvado era mesmo intransponível!

8:30h - Aqui já há olivais ... mas não há saída. Lá atrás, no meio de denso silvado, corre o Arroyo de los Enamorados
Às nove e meia da manhã, depois de uma hora em busca de uma passagem escondida no mistério dos Enamorados, tive de ponderar. Poderia dar a volta pela Barroca de La Porquera e Rascaderos, para subir pelo Pizarrón ... ou poderia regressar pelo mesmo caminho. Nunca gosto de repetir um trajecto de regresso, mas as pouco mais de três horas de que dispunha, a pouca água que já tinha e o calor ... não me deixaram dúvidas. Pelo que ... a Ladeira Grande estava de novo à minha frente.

9:30h ... e estou de regresso à Ladeira Grande
Subindo ... rumo à Lua...!
O pequeno local onde havia passado a noite como que me saudou no regresso, talvez admirado de me ver por ali de novo. Até à Cruz da Lomba, a única variante foi o trilho que rodeia o Cabeço do Clérigo, mais protegido do Sol que se estava a tornar implacável. A partir daí, seria o caminho directo de Vale de Espinho, pela Quinta do Passarinho e Nabo da Cresta.

Às onze horas já estava em terra de castanheiros ... em terras de Vale de Espinho ... a "minha" aldeia!
Ao bater do meio dia estava em Vale de Espinho, junto ao Campanário que dias antes tinha recebido a inauguração do velho painel de azulejos do Mestre-Escola, em boa hora restaurado e devolvido à sua beleza e tradição.
Ao bater do meio dia ... back to Vale de Espinho
E, a tempo do almoço, regressei ao ninho. Apesar do calor abrasador, vinha com os pulmões e a alma cheios destes ares inconfundíveis, com as imagens e os sons da noite na serra como que ainda gravados, bem fundo, nas memórias e nos sonhos. Poucas horas depois outro amigo, natural desta aldeia que adoptei e me adoptou, descrevia-me com um portento de poema que me levou às lágrimas...

          Tu, Zé
          Tu falas com as estrelas
          Falas à noite, ao vê-las
          Desvendas o teu segredo
          Peito aberto e sem medo.

          Tu, Zé
          Dormes na mata ao relento
          Falas com a chuva e o vento
          Ouves cantos e gemidos
          Dos teus entes mais queridos.

          Tu, Zé
          Eu não sei o que procuras
          No meio destas loucuras
          Será que lá, lá mais além
          Há uma alma dalguém?

          Sim, Zé
          Alguém que só tu persegues
          E por demais que o negues
          Não te deixa descansar.

          Sim, Zé
          Alguém que te viu nascer
          Por ti sofreu, te deu ser
          Nunca deixou de te amar!
                                                            (José Antunes Fino)

O Zé Fino escreveu-me este portento em homenagem à minha Mãe. Em homenagem à minha Mãe, sim, que nas minhas catarses também procuro ... mas todo este seu belo poema se aplica também, excepto na última quadra, à minha constante procura do meu saudoso Zé Malhadas, ou "Malhadinhas", pai do meu amor raiano, a quem tanto devo do que sou, ou do que penso ser ... ou do que quero ser. Aqui ... na "minha" Malcata ... nestes ares, sons e cheiros ... é ele que procuro, é ele que descubro em cada lâmina de xisto, em cada estrela do fabuloso céu que ontem vivi. A ele dediquei, também, a minha primeira travessia da Malcata, há 10 anos, pelo percurso que ele seguia de e para o quartel, em Penamacor. A ele dediquei e dedico as minhas "aventuras" mais significativas ... aqui ... nestas "minhas" terras da raia!

Postscriptum:
Já publicado este artigo no "fragas", o amigo Zé Fino acrescentou mais uma quadra ao seu belíssimo poema, quadra essa que não poderia deixar de igualmente aqui acrescentar:
Sim, Zé
Mas também alguém que te deu
Tal donzela envolta em véu
Que jamais deixará de te amar!
Obrigado mais uma vez. Vale de Espinho é também, cada vez mais ... minha!

Na Malcata ... com as estrelas (Ver o álbum completo)