quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ao encontro do Toubkal
Os preparativos...

Em Julho de 1984 estive no Veleta, o "quase" cume da Serra Nevada, onde igualmente havia subido com meus pais 15 anos antes. Com os seus 3398 metros de altitude, o Veleta manteve-se ao longo destes 31 anos como o mais alto cume onde alguma vez subi.
Estrada do Tizi-n-Test (2100m alt.), Alto Atlas, 30.07.1985
Mas, menos de quinhentos quilómetros a sudoeste das costas andaluzas, a Cordilheira do Atlas ergue-se quase mil metros acima da Serra Nevada, culminando no Jbel Toubkal, o colosso de 4167 metros de altitude que constitui o ponto mais alto de toda a África do Norte. Também em 1985 - há exactamente 30 anos - por lá andei perto, no regresso da épica "Expedição Gil Eanes". As estradas do Atlas, a travessia do mítico Tizi-n-Test, aquele outro Marrocos, a sensação de que tínhamos sido transportados para os altos planaltos do Tibete ... deixaram sempre no meu imaginário um regresso. Um regresso para um Caminho também ele mágico e místico ... ao encontro do cume, das nuvens, da montanha ... do Céu! Os berberes dizem que o cume é o ponto mais próximo de Deus a que podem chegar, ou não significasse Toubkal (جبل توبقال) ... "aquele que observa do alto".
Vale do Oued N'Fis, 30.07.1985
Do imaginário à concretização do sonho, mediou o estudo das características da "aventura" a que me propunha e da melhor data para a concretizar. A quantidade de neve no início de Julho de 2013, no Monte Perdido Extrem, aconselhou-me a optar mais pelo fim do verão. Lançado o repto a diversos companheiros de "aventuras"... logo responderam a "irmã" a que fiquei unido pelo Monte Perdido e pelo Caminho de Santiago e o "irmão" que o destino não deixou concretizar aqueles dois projectos, mas que me acompanhou na "peregrinação" da Praia de Santa Cruz a Fátima, em Abril último ... e que um dia completarei até Santiago. Este meu "irmão" ... leva a família "toda". E com mais dois candidatos e duas candidatas ao Toubkal, formamos uma bela equipa de 10 amantes da montanha e dos desafios. Como o destino traz coincidências interessantes ... 5 dos 10 elementos da equipa são do signo Virgem ... com uma aniversariante no próprio dia da partida... J. Tenho pena que os meus outros "irmãos Santiagueiros" não estejam ... não se pode estar em todo o lado; Araújo, meu Irmão e mentor ... Bom Caminho!
Quanto à logística, havia três opções: aventurarmo-nos em autogestão; recorrer aos serviços de uma empresa local, como a ligada ao Clube Alpino Francês (CAF); ou aos de uma empresa portuguesa. A proposta da portuguesa Outside entusiasmou-nos desde cedo: um guia português, desde Lisboa, um programa de oito dias, quatro deles de trekking na montanha, disponibilidade para a data por nós escolhida, simpatia, uma boa relação qualidade/preço ... levaram-nos a estar de partida! No próximo domingo, penúltimo dia de Agosto, antes das 5 h da manhã, 3 dias depois de completar 62 anos ... lá estaremos no Aeroporto da Portela ... cheios de sede de aventura...


Na bagagem vai o material indispensável para uma aventura desta natureza ... mas na minha bagagem vão também três objectos que me têm passado a acompanhar, a proteger e a dar-me força em todas as minhas caminhadas e "aventuras":
  • a pedrinha que a minha irmãzinha mais nova me deu no Cabo Fisterra, no fim do Camiño;
  • o trevo de quatro folhas que uma outra irmã me deu, na sequência do trágico mês de Fevereiro deste ano e da catarse de um fim de semana de Março no Gerês;
  • e ... uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, que me foi dada pela minha Mãe há muitos anos, com o intuito de precisamente me acompanhar nas minhas aventuras por fragas e pragas. Curiosamente ... Fátima é nome árabe...
Lá, no cume do Toubkal ... será também o ponto mais próximo a que posso chegar da minha Mãe, do meu sogro, do meu Tio Carlos...! Quanto à minha companheira de vida e de tantas e tantas "aventuras", esta não é de todo uma "aventura" ao seu alcance; se pudesse ... levava-a também na bagagem... J

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