domingo, 28 de dezembro de 2014

Entre o Socorro e a Archeira ... a fechar 2014

Entre o Natal e a Passagem de Ano, a fechar as actividades de 2014 do grupo Novos Trilhos ... uma caminhada queima-calorias curta mas intensa, na Serra do Socorro e Serra da Archeira, com um desnível acumulado de quase 1000 metros, por vezes sem trilho ... tudo muito à maneira deste grupo...J

Começada nos 395 m alt. do cume da Serra do Socorro ... esta foi bem uma jornada à maneira Novos Trilhos...J
Subida para o Cume de Mariquitas
Moinho de Mariquitas (343m alt.)
Aldeia de Furadouro
Subida para a Archeira
Cume da Archeira (344m alt.) ... e volta a descer...J
Tempo de reforço alimentar, na Archeira

O "ataque" final ...
... de regresso ao Socorro
Senhora do Socorro ... foto de grupo
No final, saboreámos uns mini coscorões e filhós, entre outras iguarias ... também bem à maneira do grupo Novos Trilhos ...J.

Entre o Socorro e a Archeira

Agora ... só para o ano ... que é já daqui a uns dias...! O blog "Por fragas e pragas..." deseja a todos os seus seguidores e amigos um

FELIZ ANO DE 2015

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Caminhada ... ao submundo de uma cidade...

Na noite da antevéspera de Natal, mobilizados por uma das pessoas mais notáveis que conheci na vida, mais de uma dúzia de habituais companheiros de trilhos juntaram-se para uma caminhada muito especial: com as nossas habituais mochilas às costas, acabámos de fazer 10 km pelas ruas de Lisboa. O conteúdo das mochilas era também ele especial: roupas ... sacos-cama ... cobertores ... meias, meias, meias ... cuecas, cuecas, boxers ... sweats ... luvas ... leggings ... bolos secos ... bolachas ... pão ... sumos. Isso mesmo ... uma caminhada de solidariedade, distribuindo coisas aos Sem Abrigo ... uma caminhada ao submundo da cidade...
Preparei a minha mochila de autonomia: 60 litros de roupa que já não usamos, minha e da minha "pequena arraiana". Ela também se juntou nesta "aventura"; na mochila dela ... sumos e bolos.

As regras eram simples: "Não se tira fotos. O que levamos para dar temos de ser nós a transportar, não forçar ninguém, não julgar nem questionar, falar só o que for preciso e ao sabor dos interlocutores... Não se abordar as pessoas em grupo grande: - Olá, boa noite, está a precisar de alguma coisa? E deixar fluir..."
E ... deixámos fluir...!
A partir da Alameda, descemos a Avenida Almirante Reis até ao Martim Moniz e ao Rossio. Passámos junto ao "meu" velho Palácio da Independência, por trás do Teatro Nacional chegámos aos Restauradores, subimos a Avenida da Liberdade até à Praça da Alegria e à Rua do Salitre. Voltámos a descer até à Rua de S. Nicolau, subimos a Rua dos Fanqueiros, de novo o Martim Moniz ... e o regresso à Alameda.
As palavras são poucas para exprimir o que se sente numa caminhada destas. Percebe-se a vida destes rostos sem rosto? Não. Mas sentem-se os pés gelados de uma rapariga esguia, enfiados nuns sapatos a largar a sola. Sente-se o frio do velho "Carlos", agradecido ao ser coberto por um cobertor mais reconfortante. Ouve-se a fome dos que nos pedem comida ... e nos desejam Feliz Natal.

Nunca imaginei que entregar um saco cama nas mãos de alguém fosse uma experiência e uma vivência tão intensa! Aquele saco cama foi meu ... viveu "aventuras" ... tem estórias para contar. "-Um saco cama, dá jeito? -Oh, se dá!" ... e agora é ele, o meu velho saco cama, que afaga as histórias, os dramas e tristezas daquele rapaz que, de olhos arregalados, perto do velho Cinema Condes, o guardou para as noites frias que se avizinham. "A mochila é que também dava jeito", diz-me um outro, do outro lado da Avenida; "oh, isso é que não pode ser", respondo-lhe eu ... com vontade de a largar logo ali, nas mãos de quem seguramente dela tiraria bom proveito. Quem me leva os meus fantasmas?...


«Uma vez passei o ano assim, com espumante e bolos, e tive que desistir e entregar tudo numa casa de acolhimento nos Anjos... Nem a passagem de ano significava nada para eles ... e muitos já estavam bem "grogues"»
(António Araújo Silva, dinamizador desta Caminhada especial)
Um grande obrigado, meu amigo e irmão Araújo! Obrigado por um dia te ter conhecido. Obrigado pelo tanto que já me ensinaste ... pelo tanto que ainda temos a aprender.

(Excepto a primeira, da mochila, as restantes fotos que ilustram este post foram retiradas de diversos sítios na internet, nada tendo a ver com a caminhada efectuada nem com os seus participantes)

sábado, 13 de dezembro de 2014

Cintra ... o Monte da Lua em dia de inverno...

Última caminhada do ano dos Caminheiros Gaspar Correia. O destino? Sintra, ou Cintra ... o "Monte da Lua". Dizem alguns teosofistas e ocultistas que esta Montanha Sagrada pode ser uma das Cem Portas que dá acesso ao mítico Reino de Agharta, no interior da Terra, onde reside o "Rei do Mundo".
Serra de Sintra, 13.12.2014, 10:20h - A partir de Monserrate,
tinha começado mais uma caminhada ... em dia de chuva
"Tal como a Arrábida, a Serra de Sintra é oca no seu interior, formada por vários túneis e grandes galerias, construídos ao que se diz pelos Mouros e pelos Templários há cerca de oito séculos."
E se a Serra Sagrada de Sintra parece pois estar ligada internamente ao paraíso perdido de Agharta ... não poderia haver melhor dia para vivenciar os seus mistérios. Por entre brumas e uma chuva branda mas quase sempre persistente, as fragas, as árvores, as nuvens, a própria linha de costa vislumbrada do Alto da Peninha, tudo parecia assumir formas fantasmagóricas,  transportando-nos do presente aos mistérios e enigmas de um passado perdido no tempo ... e às incógnitas do futuro.

Alto do Monge - Memorial às vítimas do grande incêndio de 1966
A caminhada começou junto aos lagos que alimentam as fontes e as cascatas do Palácio de Monserrate, subindo daí aos Capuchos e ao Alto do Monge, onde se encontra a lápide em memória das 25 vítimas do grande incêndio de Sintra, na noite de 7 de Setembro de 1966.


Num autêntico altar dos druidas...
O memorial e o marco geodésico assentam na Anta do Monge, que na verdade não é uma anta mas sim um tholos, antiga construção circular quase reduzida aos alicerces, que fora santuário Celtibero ou mesmo Ligúrico.
O sobrenome, “do Monge”, refere-se ao episódio, lendário ou não, ali ocorrido com um monge capuchinho que, em noite de bruma, perdido na serra ... viu-se subitamente num outro mundo!

Seguiu-se a subida à Peninha (489m alt.) ...
... com o Guincho perdido no nevoeiro ...
... e o que resta da Ermida de São Saturnino aos pés do palacete romântico da Peninha
O Santuário da Peninha insere-se num conjunto arquitectónico formado pela antiga ermida de São Saturnino (fundada por D. Pêro Pais na época da fundação de Portugal) e pelo palacete romântico de estilo revivalista, de 1918. Dali se avista uma panorâmica fabulosa ... quando os deuses assim o permitem.

Quando os deuses escurecem o Mundo ...
Da Peninha descemos em direcção noroeste. Por entre as brumas apareceu esporadicamente o Cabo da Roca, lá onde a terra acaba e o mar começa. A progressão, agora, parecia fazer-se por entre árvores mágicas, torcidas pelo vento, carregadas pela chuva ... ou pintadas pelos deuses do reino de Agartha.

Árvores mágicas, na Serra Sagrada de Cintra ... o Monte da Lua ... uma das portas mágicas de Agartha
Por estes caminhos mágicos, chegámos à anta de Adrenunes. Trata-se de uma formação rochosa natural, que se pensa que terá sido utilizada como sepulcro colectivo durante o período megalítico. O desabamento das pedras que a constituíam formou uma estreita galeria de 5 m de altura.
Erguida num dos mais elevados pináculos do último contraforte da Serra, a 422 metros de altitude, encontra-se envolta por extensa vegetação.

Anta de
Adrenunes
Com as nuvens baixas a deixarem-nos perceber por vezes a várzea de Colares, Almoçageme e a Praia das Maçãs, descemos da anta de Adrenunes para o Pé da Serra, de novo por entre formas a desafiar a imaginação mais fértil.

Caminhos mágicos...
No Pé da Serra viríamos a terminar esta caminhada, no ambiente místico de um dia de invernia. E como a invernia chama o Natal ... seguiu-se o tradicional convívio de troca de prendas entre os elementos da "família" Caminheira.

Pé da Serra ... e
terminava a caminhada
Cintra ... o Monte da Lua

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Da Penha dos Corvos às águas do Mondego

A tradição oral popular atribui o nome da vila de Penacova à existência de muitos corvos na Penha onde a mesma se localiza. Entre a Penha dos Corvos e as águas do Mondego ... uma data especial levou-nos, a mim e à minha "pequena arraiana", às terras de Penacova e ao relax nas belíssimas instalações e excepcional localização da "Quinta da Conchada".
O Mondego ... da varanda da suite da "Quinta da Conchada", 8.Dez.2014
Debruçada sobre a margem esquerda do Mondego, junto à Barragem da Aguieira, a "Quinta da Conchada" é o paraíso ideal para uns dias de puro relax ... mas um dos dias tinha de ser dedicado a uma actividade pedestre, evidentemente...J
Conhecendo já grande parte da "Rota dos Moinhos" da Serra do Buçaco, bem como os Moinhos da Aveleira, na freguesia de Lorvão, a escolha recaiu sobre o percurso a que a Câmara de Penacova chamou "Penacova, o Mondego e a Lampreia" (PR1 PCV). Trata-se de uma rota circular que "permite a quem o percorre descobrir, caminhando, o património e o traçado urbano da Vila de Penacova, até ao Penedo de Castro.". Percurso muito bem descrito, muito bem sinalizado, mas como adiante veremos ... nem tudo são rosas.

E o Mondego visto de Penacova, 9.Dez.2014
A manhã acordou mágica, na "Quinta da Conchada": sobre o Mondego corria um nevoeiro denso, evidenciando a proximidade da albufeira da Aguieira. Temperatura ... 3ºC! Mas a previsão era de Sol e bom tempo, pelo que saímos do nosso "refúgio" quase às dez da manhã. Optámos por iniciar o percurso pouco abaixo do centro histórico de Penacova, descendo ao rio e deixando a vila propriamente dita para o final. A ideia era atravessar o Mondego na ponte pedonal referida no website da Câmara, que dá acesso à praia fluvial do Reconquilho, após o que seguiríamos pela margem esquerda. Era...

Belo caminho de beira rio
"Ponte" pedonal sobre o Mondego ... mas só se conseguirmos levitar...J
Por um arborizado e belo caminho ribeirinho e seguindo a muito boa sinalética que, no terreno, indica a progressão do percurso, sem que haja em parte alguma qualquer aviso, chegamos à suposta ponte pedonal ... e damos de caras com o que as fotos acima documentam...! Atravessar o Mondego ... só a nado...! Nem no próprio local existe qualquer informação ou explicação para o paradoxo ... chegando ao cúmulo de, uns metros antes de ali chegar, existir uma última marca do PR ... a mandar virar à esquerda ... ou seja para as águas do rio. O Mondego é um rio de encantos e de amores ... mas não abusemos...J.
É, no mínimo, ridículo! Senhores da Câmara de Penacova ... há que corrigir este imperdoável paradoxo!

E não houve outro remédio
caminho alternativo de
se não descortinar um
subida ao Penedo do Castro
No Penedo do Castro ... tínhamos um oceano de nuvens sobre o Mondego ...
Virando costas ao Mondego e recorrendo ao meu fiel OruxMaps (continuo a usar o velho OziExplorer na versão PC), lá descortinei forma de "trepar" por velhos carreiros e vielas ao bairro Penacovense da Cheira, retomando o PR pouco antes do Penedo do Castro, uma das melhores vistas panorâmicas da zona.
A minha "princezita" acusou a subida dos 30 metros da margem do rio aos 300 e poucos do alto daquela penha, pelo que ali permanecemos cerca de 20 minutos ... durante os quais o mar de nuvens que cobria o vale do Mondego se foi gradualmente dissipando.

Penacova e o vale do Mondego renascem das nuvens...
Não admira que o escritor Augusto Mendes Simões de Castro, um dos mais antigos propagandistas da região - a cuja glória se deve o nome dado ao Penedo - se deleitasse e perdesse na contemplação das serranias e vales que preenchem aquela ampla paisagem.



   E do Penedo do Castro descemos
para norte, para o vale do Ribeiro da Presa
O Mondego visto da janela do Restaurante "Côta". Ao fundo a célebre "Livraria" do Mondego
A norte da vila de Penacova, desaguando no Mondego, corre o Ribeiro da Presa, para cujo vale descemos, cruzando uma zona muito urbanizada, mas também velhas quintas, denotando um passado infelizmente perdido no tempo. Entretanto ... eram horas de almoço. Esta caminhada era especial, integrada nas "comemorações" de uma data especial, como referido de início. Como tal ... não levámos o habitual "farnel"; algum restaurantezinho havia de aparecer; e apareceu...J. De pergunta em pergunta, o Restaurante "Côta" cativou-nos desde logo pela vista sobre o Mondego, a pequena aldeia rural de Azenha do Rio ... e o saboroso arroz de míscaros com que nos deliciámos, que era o manjar do dia. Quase nos sentimos transportados ... para a "nossa" raia Sabugalense...J

"Livraria" do Mondego, face sul
Depois do almoço, faltava-nos a margem esquerda do Mondego, cruzando-o agora pela ponte rodoviária ... esta evidentemente transitável...J. Esta é uma das duas extensões opcionais do PR1, até à chamada Livraria do Mondego, monumento natural que o tempo esculpiu ao longo de mais de 400 milhões de anos. Depois de ter recebido o Alva, seu afluente da margem esquerda, o Mondego estrangula-se ao atravessar o contraforte de Entre Penedos e surgem as altas assentadas de quartzitos silúricos dispostos quase verticalmente, como se de livros numa estante se tratasse.

O Mondego pouco a jusante da "Livraria" do Mondego
O regresso foi à beira rio, com as cores e as luzes de uma tarde a anunciar um declinar a aproximar-se. A praia do Reconquilho, a sul da ponte rodoviária, essa teria de ficar para outras "núpcias" ... ou teríamos de regressar pelo mesmo caminho, dada a incapacidade de caminhar sobre as águas...

Cores e luzes de uma tarde a declinar, junto a Penacova
Restava-nos o centro histórico de Penacova. De novo na margem direita, umas escadas e o auxílio do GPS fizeram-nos embrenhar numa mata que cobre a encosta sudeste da vila ... e descobrimos um velho caminho que, em tempos, deve ter sido bem agradável e, até, romântico. Pena é que não se encontre recuperado, uma vez que nos conduziu directamente ao altaneiro Mirante Emygdio da Silva, ex-libris de Penacova, de onde se desfruta nova panorâmica magnífica sobre o Mondego. Mandado construir no início do séc. XX por iniciativa daquele político e de autoria do italiano Nicolau Bigaglia, na sua construção foram utilizadas colunas de pedra trazidas do Mosteiro de Lorvão.

O Mondego, do Mirante Emygdio da Silva
Pérgola Raul Lino, outro dos miradouros de Penacova sobre o Mondego 
Próximo da Pérgola Raul Lino situa-se o Posto de Turismo. Encontrando-se aberto, entendi dever perguntar a razão da insólita inexistência da ponte pedonal referida no percurso do PR1 ... e o que fiquei a saber constitui por si só um paradoxo maior ainda! A ligação pedonal entre as duas margens só existe efectivamente no verão, sendo removida todos os anos no final da época e dela restando apenas os suportes metálicos com que havíamos "esbarrado"!!! Se, por um lado, se pode compreender este processo de "monta / desmonta", devido às enchentes, ao perigo da passagem em época de intempéries, etc. ... é completamente inexplicável e inadmissível que não haja qualquer informação sobre esse facto, nem na documentação que a Câmara editou, nem na sinalética. Os caminheiros que vêm a Penacova fazer o PR1 baseiam-se no percurso que lhes é proposto, iniciam-no em qualquer ponto, uma vez que é circular, e, ao chegarem àquele ponto ... esbarram com um sinal que os manda ... para dentro de água! Ridículo!

Um último olhar sobre Penacova e o Mondego ...
Com a tarde a declinar, regressámos à "Quinta da Conchada" ... para assistirmos, da própria varanda do quarto, a um espectáculo de cores sobre o rio de todos os amores...

"Quinta da Conchada", 17:25h - Um espectáculo visto da varanda...
Penacova e o Mondego


Da "Quinta da Conchada", 10.Dez.2014, 14:55h
Hoje, último dia na Conchada, foi de descanso ... não sem um pequeno reconhecimento pelo maravilhoso jardim em socalcos e pelas margens desta excelente unidade hoteleira, onde trouxe a minha "pequena arraiana" para comemorarmos ... uma data especial...J


Jardins e margens do Mondego,
na "Quinta da Conchada", 10.Dez.2014