domingo, 27 de abril de 2014

Dois dias a andarilhar pela Ria Formosa

Depois do Pulo do Lobo (artigo anterior), a actividade dos "meus" Caminheiros Gaspar Correia continuaria mais a sul, no litoral algarvio, em plena Ria Formosa. Não sendo bem esta a minha praia (a minha "praia" é a montanha...), vivemos no entanto dois magníficos dias, sempre com um belo Sol a iluminar as paisagens litorais, no ambiente de sã camaradagem que sempre uniu a "família" caminheira.
Tavira, Rio Gilão, 26.04.2014, 9:50h
A Ria Formosa é uma extensa área de sapais e praias, que se estende pelos concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António, ao longo de 60 quilómetros, desde o rio Ancão até à praia da Manta Rota. O caimão-comum é o símbolo do Parque Natural; espécie rara, em Portugal existe e reproduz-se exclusivamente nestes sapais algarvios. O flamingo e a águia de asa redonda, a galinhola e o guarda-rios são outras aves que aqui se podem observar, para além das típicas limícolas litorais como os pilritos e ostraceiros; outro habitante do Parque, quase extinto na Europa, é o camaleão.
A área é também de grande interesse a nível da flora, especialmente pela vegetação das zonas de duna e sapal. A importância económica da ria é enorme, devido à variedade de peixe, marisco e bivalves.

Sábado: de Tavira à Fuzeta
A nossa actividade começou por uma jornada coincidente em grande parte com o percurso pedestre denominado da Torre de Aires. É um percurso linear, praticamente plano, que liga Tavira à Fuzeta.

A caminho do litoral, entre Tavira e a Torre de Aires
A Torre de Aires, ou de Aires Gonçalves, por associação ao proprietário dos terrenos onde se implantava, é uma torre de planta circular originalmente integrada num sistema de monitorização da costa algarvia, no século XVI. O nosso local de almoço foi relativamente próximo da torre, próximo também do local onde o trajecto mais se começa a aproximar do litoral.

Ao longo dos sapais da Ria
Formosa, entre a Torre de Aires e Livramento
Entre o Livramento e a Fuzeta, os bandos de pilritos e ostraceiros acompanharam-nos, bem como algumas garças e gaivotas. A parte final corresponde também às salinas de Tavira, com "montanhas" de sal a ornamentar a paisagem litoral.

Mar, céu, aves limícolas
e sal: a imagem da Ria Formosa
E assim entramos na Fuzeta
Com 16,5 km percorridos, na Fuzeta demos a "etapa" por terminada, com a habitual "reposição hídrica" apetecível, num dia em que o calor já lembrava o verão. De regresso a Tavira, no "nosso" autocarro, o dia não acabaria sem uma boa grelhada mista, de bom e fresco peixe algarvio.

Domingo: ilha de Tavira
A Ilha de Tavira é uma ilha arenosa com cerca de 11 km de comprimento, localizada junto à costa algarvia, a sul de Tavira. O acesso é feito a pé, através de uma ponte que se situa junto da aldeia de Pedras D'El Rei, ou utilizando os barcos que partem da cidade ou do cais das Quatro Águas.

Pedras d'El-Rei, 27.04.2014, 9:55h - Rumo à Ilha de Tavira
Foi precisamente este o nosso circuito pedestre, entre Pedras d'El-Rei e as Quatro Águas, ao longo das praias do Barril, Terra Estreita e Tavira. A oeste da praia do Barril, situa-se ainda a Praia do Homem Nu, onde o naturismo se encontra legalizado. O percurso foi portanto pelo extenso areal ... imaginando a costa marroquina algures para lá do mar...

Ao longo extenso areal da ilha, em dia de concurso de pesca
Farolim da Barra do Cochicho, no extremo leste da Ilha de Tavira
No fim da ilha, ainda houve tempo para um mergulho nas águas do oceano. Estávamos quase a terminar este fim de semana e esta bela actividade litoral ... mas mais uma vez só após uma nova grelhada de peixe fresquíssimo ... na própria praia.

Do alto do farolim
da Barra do Cochicho
Em pouco mais de cinco minutos, a travessia das Quatro Águas devolveu-nos a Tavira ... de onde nos esperavam cerca de 4 horas de autocarro de regresso à capital. Três dias de uma bela actividade, vivida no seio da amizade e da sã camaradagem desta minha "família" caminheira!

Nas Quatro Águas, à espera do barco ... e a actividade estava a terminar
   
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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Regresso ao Pulo do Lobo ... nos 40 anos de Abril!

Pulo do Lobo, 25 de Abril de 2014
Na "aventura" de Março passado, pelas razões então verificadas, não chegámos ao Pulo do Lobo. Por mera coincidência, no primeiro de três dias da actividade de Abril da "família" caminheira Gaspar Correia, estava programada a passagem por terras de Mértola ... com a primeira caminhada precisamente ao Pulo do Lobo. Hoje, felizmente ... não fomos parar ao Hospital de Beja...J.
Guadiana à vista!
Comemorar Abril a caminhar no Alentejo ... até é uma forma alternativa de o fazer. Há 40 anos gritava-se LIBERDADE! Há 40, 42, 44 anos ... cantava eu muitas vezes o "Canto Moço" da minha juventude: somos filhos da madrugada...! Depois, um dia, numa madrugada de Abril ... veio a esperança de ver voar definitivamente os vampiros, que vinham em bandos ... com pés de veludo ... pela noite calada...! 40 anos do 25 de Abril! Parece que foi ontem...! Oxalá o céu não volte a ser cinzento, sob o astro mudo...
Antes das onze da manhã estávamos no Monte de Pias, a seguir à aldeia de Amendoeira da Serra. A caminhada desta vez era pequena. Começámos por caminhar para norte, em direcção ao Moinho do Escalda, um dos antigos moinhos de rodízio, no Guadiana.

Ao longo da margem direita do Guadiana
Desde próximo da foz da Ribeira de Terges, acabámos portanto por fazer o percurso que não fizemos em Março, devido ao incidente de então, ao longo da margem direita do Guadiana, sobre as irregulares formações xistosas que antecedem o grandioso e apertado salto do rio.

Já nas imediações do Pulo do Lobo
Em dia soalheiro e convidativo, o almoço foi precisamente próximo do salto. O nosso habitual companheiro geólogo fez-nos viajar no tempo, acompanhando o trabalho da erosão e a formação e regressão dos glaciares, assistindo assim ao "filme" da formação do Pulo do Lobo.


Hoje não caiu...J
Depois do grande salto, o Guadiana segue o seu curso...
Do leito do Guadiana subimos à Herdade do Pulo do Lobo ... e às duas da tarde tínhamos esta pequena mas bela caminhada completada. Estava quebrado o "enguiço" do mês passado...J

Estava completada a "aventura" no Pulo do Lobo,
interrompida um mês antes por um incidente de percurso
Das terras do Pulo do Lobo rumámos a Mértola, e de Mértola a Tavira, onde a actividade caminheira vai continuar pelo fim de semana.
Mas, em plenas comemorações dos 40 anos da revolução dos cravos ... ainda houve lugar para uma caminhada by night, para um memorável concerto da Brigada Victor Jara junto ao belo Rio Gilão! Hoje, como há 40 anos ... grita-se LIBERDADE!

Tavira by night ...

... para um concerto da Brigada Victor Jara,
comemorativo dos 40 anos do 25 de Abril

   
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terça-feira, 15 de abril de 2014

Autonomia na Serra Amarela ... ou dois dias de pura magia!

Percorrer serras e vales, planícies e rios, dormir em tendas armadas no alto de serras ou no meio de matas luxuriantes, por vezes sob um céu repleto de estrelas, em silêncio ou ao som de velhas baladas...

Foto: Paulo Costa
Passar noites no campo, ouvir o cantar das águas de um riacho, o restolhar de algum animal assustado, o estalido da lenha na fogueira que ficou morta mas renasceu...
Viver um verdadeiro ambiente de sã camaradagem, tendo por companheiros os amigos, a montanha, o verde, as cores e os cheiros da Natureza, o vento, o frio, o calor, a escuridão da madrugada que vai dar lugar ao Sola água, os sons do silêncio...
À medida que escrevo e que sonho, no meio do silêncio ... estou a escutá-los...
Reportam-se estas e outras frases à apresentação que escrevi quando iniciei estas minhas "fragas", ou ao epílogo com que fechei a respectiva parte retrospectiva de 40 anos. Porquê relembrá-las agora ... agora que "O rapaz pacato que iniciou esta viagem é sexagenário ... mas mantém a paixão e a garra que cada vez mais o inspira e alimenta."?... Porque acabei de viver no último fim de semana aquelas sensações, aquela força que nos faz viver, a força que alimenta paixões, a força que nos mostra quem somos, o que somos, para onde vamos...
Como referi no artigo anterior, um convite para um fim de semana em terras do Parque Nacional da Peneda-Gerês levou-me, uns dias antes, a partir à descoberta do rio Laboreiro, para na sexta feira nos encontrarmos com o autor do convite. Homem dado às letras, cujos escritos já tenho usado nestas  minhas "memórias" e em vídeo, o Luís ficou preso desde jovem, como eu, aos encantos do Gerês ... como o atesta a fotografia à esquerda, nos longínquos anos 70. Nunca tínhamos até agora caminhado juntos. Amigos de "aventuras" já vividas na serra, o Luís tinha pedido a orientação de um mestre ... ou não fosse o Paulo presidente do Clube de Montanhismo de Braga, que tive o privilégio de conhecer em Novembro de 2011, na Serra Amarela. Para nos acompanhar ... quem melhor do que a grande White Angel, a grande mulher que um dia  entregou a sua Alma de Montanhista a estas montanhas mágicas? E, finalmente, as nossas duas "companheiras de armas", minha e do Paulo, completando a equipa de seis que íamos partir ... para uma autonomia na Serra Amarela. Foi pena a ausência de mais alguns montanheiros e montanheiras, nomeadamente da já citada memorável jornada de Novembro de 2011 ... mas os seis que participámos nesta "aventura" formámos uma bela equipa ... uma "família" apaixonada pela montanha ... pela vida!
Junto ao paredão de Vilarinho das Furnas, 12.04.2014, 9:55h
O que vivemos neste fim de semana não foi uma caminhada, não foi uma autonomia, não foi uma fabulosa rota circular em que percorremos grande parte da Serra Amarela ... foi tudo isso e muito mais! Foi uma entrega total à Serra, a nós próprios, a cada um e a todos os seis que a vivemos. Foi um hino à paixão pelos grandes espaços, foi um sonho tornado realidade ... ou uma realidade vivida num sonho.
"Na vertigem das horas, os recantos da Serra Amarela inundados de silêncio, de céu, do cantar dos pássaros e dos regatos, foram testemunhas de uma cumplicidade comemorada a seis."              (Luís Miguel Vendeirinho)
Antes das dez da manhã de sábado, a equipa estava reunida junto ao paredão da barragem de Vilarinho das Furnas. Nem eu e a minha "cabrita arraiana", nem aliás o próprio poeta das letras que nos lançou o repto, sabíamos bem para onde íamos. Sabíamos que estávamos a partir para uma autonomia de dois dias na Serra Amarela ... mas só o nosso "líder" e a Alma que destas montanhas tudo sabe tinham um plano mais ou menos traçado...J.

A paz, a tranquilidade ... mas também o respeito à memória de Vilarinho da Furna
De início ao longo da margem direita do Homem, junto à albufeira que submergiu a velha aldeia, rapidamente começámos a subir o vale do rio da Furna, por entre molduras de vegetação, ao som de trinados da passarada e do correr das águas soltas e límpidas de cristal.

Não é moldura ... é um sonho tornado realidade ... ou uma realidade vivida num sonho...
Ala arriba ... que ainda o dia é uma criança...
Quase 400 metros acima de onde tínhamos partido, os belos prados de Toutas e das Coriscadas foram o local eleito para o almoço. O dia esplendoroso abria-nos à frente o cenário do vale do Homem, não se vendo já a barragem mas tendo o imponente Pé de Cabril à nossa frente. Para nordeste, percebia-se já a cumeada das Ruivas e do Ramisquedo; ia entrar em terreno conhecido...

Coriscadas (955m alt.), local do merecido descanso e almoço
Sobre o Porto do Azeveiro
A chegar ao Ramisquedo, com as antenas da Louriça em pano de fundo (1020m alt.)
Ao longo do Ramisquedo, rumo ao Sonhe (1140m alt.)
Com as antenas da Louriça à nossa frente, do Ramisquedo embrenhámo-nos no pequeno bosque do Sonhe, sobre o mártir vale do Cabril, varrido pelas chamas de Agosto de 2010. À nossa frente tínhamos as três moles graníticas da Cruz do Touro, Entre Esteiros e Ruivas ... elevando-se com a energia telúrica que nos faz sentir pequenos e num outro mundo. Por trás delas, lá longe no horizonte ... a Nevosa sobressai da cordilheira que vai do Altar de Cabrões à Fonte Fria.

Travessia do Sonhe ... ou será sonho? Do lado de lá do vale do Cabril, a Cruz do TouroEiras Ruivas ...
Lá longe, na cordilheira que vai do Altar de Cabrões
à Fonte Fria, a Nevosa sobressai no horizonte
Às quatro da tarde, com oito quilómetros percorridos e mais de 800 metros de desnível acumulado, estávamos "ao lado" das antenas da Louriça, já virados para a encosta norte da Serra Amarela. Lá em baixo ... o vale do Lima, a albufeira do Lindoso, Entrimo, o vale do Laboreiro e todo o maciço da Peneda e Soajo! Dir-se-ia que estávamos no céu ... e quase que estávamos mesmo...!

Ao longo do Alto do Corisco (1260m alt.): ao fundo a albufeira do Lindoso e a Serra de Santa Eufémia
O objectivo era agora o sítio do Rebordo Feio. Ao contrário do nome, trata-se de uma espectacular varanda debruçada para o vale do Cabril e a albufeira do Lindoso. Com 11 km percorridos ... era ali que os ombros pediam já o merecido descanso, do peso das mochilas de autonomia.

Abrigo de Rebordo
Feio (1100m alt.)
Era aqui, nesta varanda debruçada sobre o "nada", que iríamos passar o que restava de um dia esplendoroso
Ali, no meio daquele "nada" que era "tudo", iríamos assistir ao espectáculo do dia a dar lugar à noite ... e ao amanhecer de um novo dia! Mas ali, no meio daquele "nada" que era "tudo", iríamos também "temperar a noite com o fogo dessa alegria clandestina" ... a nossa alegria de estarmos juntos, de sabermos louvar as amizades, de sorvermos a paz emanada da Terra, de uma Lua mágica, das estrelas dispostas num firmamento eterno e etéreo...

E o dia vai dando lugar à noite, "em forma de sombras que vieram pela tarde fora"...
"Pouco importa. Via Sacra prematura, excentricidade dos hábitos, sede dos olhares, ou um Muro virado para o éter do fascínio, bem tatuados no espírito a nossa condição de colonos e o nosso destino de inventores da realidade, é ali, no sítio exacto que se deixou desflorar pelo humano conhecimento dos segredos da matéria, e do domínio do tempo, que meia dúzia de boas vontades puderam dividir cada migalha de palavras e o génio que as videiras destilaram. Pouco importa onde. No recato dos pássaros que não se deixam intimidar porque nos reconhecem flores nos lábios, na fresquidão das águas e das nossas almas inocentes, que ousaram temperar a noite com o fogo dessa alegria clandestina, no esporão mais aceso que as lavas doutras eras nos restituíram do universo, em forma de sombras que vieram pela tarde fora.
Muito importa dizer aos homens que há, perdidos na serrania, tetranetos dos pastores que um dia souberam dizer não. Aqui é nossa pátria que tem nome de aventura e uma bandeira onde há mais cores que um dia a ciência logrou roubar do sol. Amanhã, pouco importa, na herança do chão que deu pão, e um pouco de erva macia para os pés cansados, haverá de ser lavrada, entre os silêncios das madrugadas, a presença grata dos nomes que souberam honrar as amizades. Muito importa."      (Luís Miguel Vendeirinho)
E por entre o silêncio da madrugada ... a noite deu lugar ao dia. Perdidos na serrania, os nomes que souberam provar o sabor da amizade e das paixões foram despertando para uma manhã mágica ... a manhã de um novo dia que despontava glorioso.
13.04.2014, 7:05h - O despertar dos mágicos...
Ao fundo, a Nevosa recorta-se no Sol nascente
7:50h - O nosso Hotel ainda quase dorme...
Naquele amanhecer de todas as cores, a Nevosa continuava a dominar o horizonte, lá longe, apontando as terras onde o Minho dá lugar a Trás-os-Montes. Tínhamos dormido no Hotel de todas as estrelas, no regaço da mãe terra.
Gooooood mooooooorning! Life is beautiful!...
Era chegada a hora da partida, do regresso à "base". O regresso poder-se-ia chamar a rota dos píncaros: íamos subir aos cumes mais altos da Serra Amarela, a Louriça e o Muro, para depois descermos pelas Chãs do Muro e do Salgueiral, rumo ao Peito de Gemessura e ao ponto de partida. Nos primeiros quilómetros, ao longo do estradão que vem do Lindoso, a panorâmica abria-se agora a norte e a oeste, desde a Serra da Peneda às terras de Arcos de Valdevez. Depois, do alto da Louriça ... a panorâmica era de 360º à volta. A leste, bem visível, o vale do Homem destacava-se na paisagem.

Panorâmica para terras do Vale do Lima
Rumo às antenas da Louriça
Louriça (1359m alt.)
Cumeada da Louriça ao Muro, limite entre os distritos de Braga e Viana do Castelo
O vale do Alto Homem abre-se em todo o seu esplendor, do cume da Louriça
Com grande pena dele e nossa, o poeta, escritor e mentor desta fabulosa autonomia achou mais sensato terminar a sua parte pedestre precisamente no cume da Louriça. O velho estradão em terra batida, proveniente do Lindoso, permite a chegada de veículos, pelo que um amigo de longa data o foi buscar ali, onde as pernas disseram basta. Reduzidos a 5 elementos, na base do cume do Muro dividimo-nos também em dois grupos, apenas pelos breves 20 minutos de ascensão e descida.

Ao longo da cumeada do Muro
Os três "conquistadores" do Muro (1346m alt.)
Depois do Muro, tínhamos sensivelmente 6 km para percorrer ... e quase 800 metros de desnível até à barragem de Vilarinho das Furnas. As panorâmicas, essas continuavam a ser de cortar a respiração; o Pé de Cabril destacava-se, mais a sul os aglomerados rochosos da Calcedónia; a leste, mais longe mas distinta, a "cordilheira" encimada pelo Borrageiro. E nós lá íamos prosseguindo, atravessando os bonitos lameiros da Chã do Muro e das Casarotas, onde aliás almoçámos e repousámos.

Rumo à Chã do Muro ... com a Barragem de Vilarinho das Furnas já no horizonte
Casarotas ... local de almoço
e de um merecido descanso
Um "mergulho" a cinco, sobre a Barragem de Vilarinho das Furnas... J
Os desfiladeiros e as imagens fabulosas continuaram até ao fim. O Peito de Gemessura, entre a margem esquerda da ribeira do mesmo nome e a encosta virada para a barragem de Vilarinho das Furnas, é uma sucessão de vertentes a pique, que se perdem nos confins do apertado vale. Por trás dele, contudo, já se via a estrada de Brufe.

Peito de Gemessura ... rampa de lançamento para a descida final...
Vale da Ribeira de Gemessura
E por fim vamos mesmo "mergulhar...
A descida final é bastante pedregosa ... conforme a foto à esquerda documenta. E com 23 km não propriamente fáceis percorridos nos dois dias, foi com orgulho que dei os merecidos parabéns à minha fiel companheira de fragas e pragas, a menos experiente da equipa em "aventuras" deste grau de dificuldade. Cansada mas feliz, às cinco da tarde estava, como os restantes quatro elementos, junto à margem da barragem da velha Vilarinho. Os carros esperavam-nos ... percebendo finalmente que não os tínhamos abandonado...J.

Barragem de Vilarinho das Furnas, 17:00h, 13.04.2014 - Terminou uma fabulosa autonomia na Serra Amarela
Terminou? Não! Terminar mesmo só terminou na Albergaria Stop, no Campo do Gerês, onde o poeta mentor desta autonomia foi ter, depois de "teletransportado" da Louriça...J.

Campo do Gerês, 17:50h ... no fim de
uma fabulosa "aventura"
(Clique na foto para o álbum completo)

Para terminar este post, não me canso de repetir o que disse de início: o que vivemos neste fim de semana não foi uma caminhada, não foi uma autonomia ... foi tudo isso e muito mais! Foi uma entrega total à Serra, a nós próprios, a todos os seis que a vivemos. Foi um sonho tornado realidade ... ou uma realidade vivida num sonho! Ao longo deste fim de semana senti-me muitas vezes voltar à adolescência, aos bons velhos tempos em que percorria serras e vales, planícies e rios, dormia em tendas armadas no alto de serras ou no meio de matas luxuriantes, por vezes sob um céu repleto de estrelas, ouvindo o estalido da lenha na fogueira que ficou morta mas renasceu, tendo por companheiros os amigos, a montanha, o verde, as cores e os cheiros da Natureza, o vento, o frio, o calor, a escuridão da madrugada que vai dar lugar ao Sol, a água ... os sons do silêncio...
Obrigado meus amigos, que me proporcionaram esta fabulosa "aventura" em autonomia. Obrigado Luís, de quem partiu o convite! Obrigado Paulo e Ângela, pelo companheirismo e pela idealização e orientação do percurso! Obrigado Dorita, a grande White Angel que tem a sua Alma de Montanhista presa a estas montanhas mágicas! E ... obrigado Lala, a minha pequena arraiana, heroína que o foi sem dúvida, nesta "aventura" para além da dificuldade e dureza que havia imaginado.
Por todas estas razões e mais algumas ... este fim de semana ficará para sempre gravado na memória de quantas fragas e pragas já vivi!