quarta-feira, 6 de março de 2013

Chove longínqua e indistintamente...

Depois de uma semana de Sol, frio e neve ... uma semana de chuva em terras de Vale de Espinho...
Vale de Espinho, 6.03.2013 - "Chove. Há silêncio"...
"Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Os caminhos transformaram-se em rios...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente..."
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Depois de (mais) uma descida das águas que correm para o Côa e de (mais) uma "aventura" na Serra da Gata ... chegou (mais) uma hora da despedida ... uma despedida que não é um adeus, é só um até breve. Mas como o sussurrar da chuva acalmou um pouco, num curto despertar do céu que dorme ... lá fui eu despedir-me das "minhas" Fontes Lares, aproveitando para colher também uma bela meruje.

Nas Fontes Lares ... um último olhar ao "meu" barroco sagrado
Das casas sai o calor que me acena na despedida...
Foi uma curta "aventura" de apenas 8,5 km, parcialmente debaixo de chuva ... mas foi sem dúvida mais uma entrega a estas terras ... que um dia adoptei e me adoptaram ... vai um dia destes fazer 40 anos!

Não é um adeus, é só um até breve...

2 comentários:

Unknown disse...

As águas do Côa correm velozes, mas as terras e os barrocos de Vale de Espinho aguardarão, fielmente, pelo teu regresso! É sempre boa hora para lá voltar.

Anónimo disse...

Zé Carlos,
Com as tuas fotos e aquela bela poesia de Fernando Pessoa, também eu estive contigo nesses belos dias de chuva em Vale de Espinho, olhando para as nuvens que se agarram no horizonte das serras da Marcata e das Mesas.
Abraço amigo
Joaquim José