quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Águas que correm para o Côa (4)

Pelas águas dos Entremontes, das Balsas e da Serra Madeira

Neste frio final de Fevereiro ... cá estou mais uma vez no meu retiro de Vale de Espinho. E como estar cá é um convite permanente à descoberta ... lá fui de novo (re)descobrir mais águas que correm para o Côa. Nas últimas "etapas" desta senda, tinha privilegiado a margem esquerda do Côa, culminando já em Janeiro nos "mistérios" do Vale da Maria, da Fonte Moira e da Assentada.  Agora, em duas tardes em  que
O Côa a montante de Vale de Espinho, 25.02.2013
o Sol não aqueceu mais do que uns escassos 4ºC - e uma terceira a prometer a neve que já cai em abundância - percorri as principais linhas de água que, na área geográfica de Vale de Espinho, correm para a margem direita, vindas das encostas da Serra Alta, de locais cujos nomes estão gravados nas memórias das gentes desta "minha" aldeia. Dos Entremontes, por exemplo, vêm as primeiras águas para os lameiros das Braciosas ... as Braciosas onde o tempo foge, sem nos darmos conta que o tempo fugiu...
Braciosas ...
"Quando estou sentado no meu cadeirão, sob o mustageiro, é esta a
paisagem. .... ali o tempo foge sem eu dar conta que o tempo fugiu.
Sempre o tempo ... o passado, o presente e o futuro."
José Domingos Martins Clemente
Das Balsas e das Cortes vem o Rio Gordo, que recebe também águas do Lameirão e das alturas do Cabeço Melhano, desaguando no Côa no sítio do Regordo; das faldas da Serra Madeira, do Seixel, das  "minhas" sagradas Fontes Lares, das Guizias e da Coba Grande forma-se a rede do Ribeiro da Presa.
Foram estes os lugares por onde peregrinei, nas tardes de 2ª e 3ª feiras, 25 e 26 de Fevereiro. Todos estes lugares são-me já familiares, conheço-os e conhecem-me ... mas a minha "viagem" não acaba nunca...
"O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com o Sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles.
É preciso recomeçar a viagem. Sempre."                                       (José Saramago)
As águas dos Entremontes vêm regar os lameiros das Braciosas
"Rios capilares, ainda tímidos, ensaiam os primeiros passos..." (António Mousinho)

Na magia dos bosques...
"As ovelhas são animais temerosos, que correm e se
alimentam em rebanho, indiferentes ao forasteiro que
entra no seu território!" (António Mousinho) - Entremontes
Cortes, Vale do Rio Gordo, 25.02.2013, com "os carvalhos ainda dormentes, de tanto frio..." (António Mousinho)
Queda de água no Rio Gordo, sítio das "Tchafurdas", 26.02.2013
De novo nas Cortes, onde a água escorre de todas as fontes
Quem me dera voar ...
... sobre as Balsas
 
Nas "sagradas" Fontes Lares
Nas Guizias, berço das águas do Ribeiro da Presa
Ribeiro da Presa
Cores de um fim de tarde, 26.02.2013, 18:05h
São horas de regressar a casa ...
porque o Sol também se está a deitar no horizonte...
Percurso de 2ª feira, 25.02.2013 (clique para ver no Wikiloc)
Percurso de 3ª feira, 26.02.2013 (clique para ver no Wikiloc)
E depois de dias soalheiros, a previsão para hoje ... era de neve! E a neve começou a cair, bem cedo ... mas parou ao fim da manhã. A Natureza sabia que eu queria ir completar esta "peregrinação" pelas linhas de água da margem direita do Côa, na área de Vale de Espinho.
27.02 - A neve tinha começado a cair em Vale de Espinho
11:45h - Ela cai de mansinho, branca e leve...
A terceira jornada consecutiva destinei-a ao Ribeiro da Có Pequena. Vindo da "coba" do mesmo nome, o ribeiro também se chama do Cabeludo, ou ribeiro das Veigas ... ou o ribeiro que divide a Barreira do Povo, junto à Fontainha de Vale de Espinho.

No cruzeiro da Có Pequena, 27.02.2013
Descendo o vale do Ribeiro da Có Pequena, ou do Cabeludo ... ou das Veigas
E o Ribeiro entra em Vale de Espinho, pelo Cabeludo ...
... separa a Barreira do Povo ...
... alimenta a Fontainha ...
... e segue o seu curso para o Côa
Veigas, Vale de Espinho ... que memórias...
Lameiros do Engenho, junto à foz do ribeiro das Veigas
Côa, como eu te oiço e te sinto...
Passada a velha Ponte de Vale de Espinho, o Côa segue o seu curso...
Percurso da Có Pequena, 27.02.2013 (clique para ver no Wikiloc)
Clique para ver álbum completo



Vale de Espinho, 27.02.2013, 22:45h - Branca é a noite...
Pouco depois do regresso desta terceira jornada ... a neve começou a cair copiosamente em Vale de Espinho e nas terras raianas ... e até agora ainda não parou!

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Quintas além Penedo (Runa), com os mariolas.com

Caminhando por entre as fragas e pragas das redes sociais, nos últimos dois anos conheci dezenas de outro(a)s apaixonado(a)s pela vida ao ar livre, pelo respirar os ares e os odores da Natureza. Da grande urbe à minha Malcata, ao Côa, ao Gerês, a Somiedo, todos fazemos parte de uma comunidade ... a comunidade dos que se sentem "pedra, orvalho, flor ou nevoeiro"...
Runa, 9.02.2013, 5ºC - Tínhamos partido rumo a Penedo
Vivo a Natureza integrado nela,
de tal modo que chego a sentir-me,
em certas ocasiões,
pedra, orvalho, flor ou nevoeiro.
Nenhum outro espectáculo
me dá semelhante plenitude
e cria no meu espírito
um sentido tão acabado
do perfeito e do eterno.
Miguel Torga
Há algum tempo já que vinha acompanhando as actividades de um grupo informal de caminhantes - os Mariolas - do qual conhecia aliás alguns elementos, de outras "aventuras" noutros destes grupos que se têm formado - felizmente - através da internet e das redes sociais. Hoje foi a vez de participar numa actividade organizada por estes amigos, em terras de Runa e por quintas ... além Penedo. Penedo é uma pequena aldeia próximo de Runa, no concelho de Torres Vedras. Para leste e sudeste de Penedo, estendem-se quintas e vinhedos, matas de carrasco e urze, mas também de carvalhos, sobreiros, medronheiros, zambujeiros.
Antigo pombal, junto à aldeia de Penedo
E aqui também há "selvas"...
Moinho da Carrasqueira
Odores fortes, por vezes, talvez de predadores selvagens como o saca-rabos ou a raposa. Aves de rapina sobrevoavam o descampado, à procura de presas incautas. Destacando-se nos campos, de onde em onde, várias quintas, muitas ainda bem cuidadas, como a Quinta da Granja, a Quinta (velha) do Espanhol, a Quinta Nova do Espanhol, a Quinta da Conceição, a Quinta da Curvanceira, a Quinta dos Vales, a Quinta do Codorno, a Quinta da Casa Boa.
Por entre matos
e vinhedos...
Quinta (nova) do Espanhol
                         
A Quinta nova do Espanhol e parte da ribeira do mesmo nome fizeram-me relembrar a caminhada feita em Setembro de 2012 com a minha "família" caminheira, na "rota da vinha e do vinho". Mas apenas pequenos troços foram comuns.

Ao longo da Ribeira do Espanhol
Cores e odores de uma Primavera anunciada
Aves de rapina sobrevoavam o descampado
Quintas e vinhedos, aos pés do Moinho de Caixaria
E o grupo (quase) todo, no Moinho da Caixaria
Foi assim um sábado de Carnaval a cheirar já a Primavera. Os 5ºC com que partimos de Runa às 9 horas da manhã rapidamente subiram ... ao ritmo a que se desenvolvia a caminhada e o convívio entre os quase 30 participantes. Obrigado Mariolas, obrigado amigos! Mais fotos aqui.