sexta-feira, 13 de julho de 2012

Autonomia no Gerês
Fafião - Pinhô - Pousada - Roca Alva - Velas Brancas - Mourisca - Fichinhas - Touça - Porto da Laje - Fafião

3ªfeira, 10 de Julho, 6:58h
Pouco passa das seis da manhã. Estou na cabana de Pinhô, pertencente à Vezeira de Fafião, nas terras "mágicas" do Gerês!  É mais uma autonomia nestas terras abençoadas!  Três dias de comunhão!
Curral de Pinhô, 10.07.2012, 5:45h
O dia desperta mágico na cabana de Pinhô
Três dias de pura magia! Regressar a estas terras, assistir a este "Despertar dos Mágicos", adormecer e acordar nesta envolvência ... são sensações indescritíveis, que só os amantes compreendem. Os amantes do Gerês, mas também os amantes da Natureza e da vida!
Com a minha companheira de vida e de "aventuras", viemos ontem de Lisboa, rumo à aldeia de Ermida. Queríamos conhecer as famosas Cascatas "do Tahiti", onde o rio Arado se precipita no rio Toco, entre Ermida e Fafião. Alguém um dia as baptizou com aquele nome...! E descobrimos ali ... um paraíso de água, de luzes e reflexos. Pouco depois estávamos em Fafião ... e o carro ficou lá, a dormir e a descansar, por duas noites e respectivos dias.
Cascatas "do Tahiti", rio Arado, 9.07.2012
Às duas da tarde iniciámos assim mais esta autonomia em terras do Gerês. Depois do Fojo dos lobos de Fafião e da Ponte da Pigarreira, no rio Toco (outro paraíso), iniciámos a subida para Pinhô. Queríamos conhecer esta cabana, mais uma das muitas que têm sido recuperadas pelas gentes desta serra. Mas esta não é apenas mais uma ... é a maior e melhor, confirmando o que já havia lido noutros blogs e o que outros amantes do Gerês já me haviam dito.
Cascatas "do Tahiti"
E agora ... daqui a pouco vamos começar nova jornada. Para onde? Para onde o destino e a vontade nos levarem. Talvez Rio Laço, talvez Fichinhas, talvez Porta Ruivas ... talvez! Até quarta feira, este post continuará assim quando for possível.

6ªfeira, 13 de Julho, 8:50h
E ... só hoje foi possível! Terminámos anteontem à tarde os restantes dois dias de mais esta "aventura" em autonomia. E que dois dias! Uma palavra resume o que acabámos de viver: FABULOSO! A minha e nossa paixão pelo Gerês é grande, já perdi a conta a quantas "aventuras" já aqui vivi ou vivemos, mas a cada nova comunhão com esta serra a paixão aumenta, a admiração torna-se êxtase e catarse. O Gerês faz parte de mim ... eu faço parte do Gerês!
Quando acordei na terça feira, em Pinhô, o dia também estava a acordar. E estava a acordar ... mágico! Aquela magia que só se vive na serra, que só se sente na serra. O nevoeiro escondia a paisagem que havia visto na véspera, escondia formas, levava a imaginar outras. As vacas e bezerros que haviam regressado à noite ainda se encontravam também meio adormecidas. Afinal ainda nem seis da manhã eram! Mais tarde, o dia viria a mostrar-se limpo e belo, revelando-nos as maravilhas escondidas por trás de cada novo cabeço, do lado de lá de cada vale ... revelando-nos a alma destas montanhas mágicas.

À vista do Cutelo de Pias, sobre o vale do Rio do Conho, 10.07.2012
E a partir de Pinhô (780m alt.), o rumo era para norte, paralelos ao vale do rio Conho, que no ano passado tínhamos descido. Já acima dos 900 metros, surge-nos a visão deslumbrante do Cutelo de Pias, que igualmente no ano passado admirámos do fundo do vale. Atravessado o curral de Pousada, começámos a subir para Pradolã, com os Bicos Altos a nascente. E é nessa subida que vemos, em sentido contrário, um outro casal de apaixonados pelo Gerês. Eram a Lírio e o Orion, do blog "Cabra do Gerês", que já nos tinham tentado contactar, dado que ambos sabíamos do potencial encontro na serra! Na nossa autonomia de Junho do ano passado tínhamos casualmente encontrado o Orion na Ponte de Servas; não conhecíamos ainda a Lírio pessoalmente. E assim a magia do Gerês vai proporcionando que os seus amantes se conheçam, que o destino os unam. Uns minutos mais e não nos teríamos encontrado, dado que eles seguiam directos para Fafião e nós havíamos subido de Pinhô. Com os Bicos Altos a ouvirem-nos, para lá do vale da Corga de Carnicente, para ali estivemos quase hora e meia a conversar, a partilhar "aventuras", a viver e reviver a mútua paixão por estas terras. Chamaram-nos a atenção para a abundância do tomilho-serpão (Thymus serpyllum); e ainda nos ofereceram o que lhes sobrava de um delicioso licor de mel do Barroso ... para nos aquecermos quando chegasse a noite! Obrigado Lírio e Orion, obrigado amigos!

A magia do Gerês liga e une os seus amantes...!
Com os amigos Lírio e Orion, do blog "Cabra do Gerês"
Sobre o vale do Rio Laço, 10.07.2012 - Sublime!
À uma e meia de uma tarde esplendorosa, estávamos a almoçar no Vidoirinho. De lá à Roca Alva foi um pulo. Terreno já nosso conhecido, inclusive não há muito tempo, com parte da "família" caminheira. Já nosso conhecido mas sempre diferente, nas cores, nos sons, no espírito destas montanhas.

Prado e cabana da Roca Alva, 1275m alt.
Já a nordeste das Rocas, atravessámos um belo campo de algodão (Eriophorum angustifolium). O desnível acumulado de subida começava contudo a pesar ... principalmente na minha pequena "cabritinha". A ideia era portanto, agora, descer para a Touça pela Mourisca e Fichinhas mas, por conselho da Lírio e Orion, justificava-se fazer um pequeno desvio às Velas Brancas, precisamente sobre aqueles vales. A minha guerreira aproveitou assim para descansar, ante uma panorâmica fabulosa que abrangia o Pé de Medela, os prados da Messe, o Cantarelo, o vale do Porto das Vacas. E lá estava também o "nosso" curral do Conho, onde no ano passado fizemos a primeira noite de autonomia. Acabei por fazer dois desvios, o primeiro sobre a Corga do Salgueiro e o segundo ao topo das Velas Brancas, sobre o imponente vale que íamos descer.

Campo de bolas-de-algodão,
com a Roca Negra ainda ao fundo

Sobre a Corga do Salgueiro, 15:50h
Velas Brancas, sobre o vale das Fichinhas,
10.07.2012, 16:30h
Com as Rocas Alva e Negra ainda ao fundo
A descida para a Mourisca e Fichinhas é vertiginosa, principalmente na parte inicial, em que se descem cerca de 150 metros de desnível em pouco mais de 600. E o curral das Fichinhas viria a ser o nosso ponto de paragem na 3ª feira. Cansados mas felizes, ali assistimos ao esconder do Sol, ao som das belas águas que corriam ao nosso lado, a caminho do fundo do vale, o fabuloso vale das Sombrosas.

Descida para a Mourisca e Fichinhas
Fichinhas, 18:10h, 1050m alt.
O descanso da
grande guerreira...
Ao som das águas que correm para a Touça, 10.07.2012, 18:30h
Quarta feira, terceiro dia de autonomia. Embora o Sol nasça pouco depois das seis da manhã, às sete e meia o paraíso onde estávamos estava ainda envolto nas sombras. O extremo norte das Sombrosas e as alturas de Porta Ruivas impediam que víssemos o astro rei. E foi já quase às nove da manhã que iniciámos a derradeira jornada, que nos levaria de regresso a Fafião. Rapidamente ultrapassámos a foz da ribeira de Porto das Vacas ... e entrámos no fabuloso vale da Touça, ou das Sombrosas, com Porta Ruivas a acompanhar-nos a nascente.

11.07.2012, 8:00h - O Sol vai começando
a iluminar o paraíso onde estávamos
Vale do Rio da Touça, 11.07.2012, 8:55h
No vale da Touça, sentimo-nos fazer parte daquela Natureza quase virgem. O espectáculo grandioso do aparecer do Sol sobre Porta Ruivas, o som das águas que saltam em pequenas cascatas, por entre as rochas alvas que aquelas lavaram por milénios, a ramagem do bosque por onde vamos avançando ... tudo ali é magia, sonho, meditação!

Vale da Touça: tudo é magia, sonho, meditação!
O Sol começa a brilhar sobre Porta Ruivas, 11.07.2012, 10:00h
Ao avançar para sul, ao longo das Sombrosas, as alturas de Porta Ruivas chamavam-me. Porta Ruivas é um dos locais de eleição da amiga "White Angel", responsável pelo blog "Alma de Montanhista"; com ela e outros apaixonados da montanha vivi em Novembro de 2011 um dia magnífico na Serra Amarela. Mas Porta Ruivas teve de ficar para outra vinda às terras mágicas do Gerês; subir ainda a Porta Ruivas seria demasiado para a minha pequena "cabritinha"...
Às dez e meia estávamos com a albufeira do Porto da Laje à vista. As Sombrosas iam começar a ficar para trás. Mas até chegarmos ao Porto da Laje, o êxtase continuou de pedra em pedra, de recanto em recanto, a cada curva do rio e do trilho. Já perto, o Rio do Laço e a Corga do Salgueiro precipitam-se na Touça. Na véspera, tínhamo-los visto das alturas!

Estas habitantes estavam curiosas perante
quem lhes "invadiu" o território...
E surge ao fundo a albufeira do Porto da Laje

As águas da Touça correm céleres para o Porto da Laje
Sombrosas e as alturas de Porta Ruivas
Vale do Rio do Laço
Albufeira do Porto da Laje, 780m alt. 11.07.2012, 11:40h
O regresso a Fafião seria pelo mesmo percurso que fiz, sozinho, na minha autonomia de Maio de 2011. Não deixou por isso de ser de novo aliciante, com a particularidade de termos encontrado a Vezeira de Fafião ao vivo, na pessoa de uma simpática aldeã que guardava o rebanho comunitário de cabras; coitada, já havia dado um tombo que a tinha deixado bem marcada. É a rudeza da vida bem patente no corpo, na fala, no olhar e, de certeza, na alma da boa gente que João Botelho retrata no seu documentário "Para que este mundo não acabe!".

Vale do Rio Toco, que deixou a maior parte das suas águas no Porto da Laje ...
... formando mesmo assim
belíssimas piscinas naturais
As Sombrosas ficaram para trás
Vida rude, na Vezeira de Fafião: D.ª Filomena guarda as
cabras da aldeia, ao ritmo do tempo de um mundo "perdido"
E os horizontes abrem-se para sul, para o vale do Cávado
Antes das quatro de uma tarde esplendorosa estávamos de regresso a Fafião, onde o carro nos esperava desde 2ª feira. Estava terminada mais uma "aventura" no Gerês: três dias em autonomia a dois, de Fafião ... a Fafião. E cada nova "aventura" vai-me alimentando a paixão por estas montanhas, pelas cores sempre diferentes, pela magia que elas encerram.

11.07.2012, 15:05h - Fafião à vista!
Estas foram, talvez, as jornadas mais duras de quantas fizemos até agora, principalmente as duas primeiras, de 2ª e 3ª feiras. Afinal, vencemos praticamente mil metros de desnível ... e nós somos quase sexagenários! Mas ... quanto mais velhos melhor... :-)

Alguns números:

- Horas de autonomia: 50 horas, entre as 14h de 2ª feira e as 16h de 4ª feira;
- Nº de noites na serra: 2
- Distância percorrida: 27,4 km;
- Desnível entre máximos: 950 metros;
- Desnível acumulado de subida e descida: 3034 metros;
- Ponto mais baixo: 360m alt. (Ponte da Pigarreira, sobre o Rio Toco);
- Ponto mais alto: 1310m (sobre a Mourisca e a Corga de Salgueiro)

Finda a autonomia ... tínhamos direito a um "mimozinho"...! De caminho para Montalegre (sexta feira 13...), estamos na Estalagem "Vista Bela" ... com vista para a barragem de Paradela e as alturas do Gerês!

No Outeiro, sobre a Barragem de Paradela. Terminada a autonomia ... temos direito a um "mimozinho", ou não?...
Esta é a vista da janela do quarto...

Aqui fica o álbum completo de fotos (mais de 300...) e o percurso destes três fabulosos dias.



7 comentários:

Raul Fernando Gomes Branco disse...

Callixto,a palavra inveja nunca fêz parte do meu vocabulário,mas não resisto utiliza-la neste momento,dizendo:Quanto invejo esta tua coragem e capacidade de aventura,pois quanto ao gosto e prazer de disfrutar do espaço que estiveste envolvido seria igual.
Uma reportagem de grande valor,que certamente muitos portugueses irão usufruir e adorar.
Que DEUS te permita continuar por muitos anos estas tuas aventuras,com a tua "Cabritinha".
Um abraço
Raul Branco

José Carlos Callixto disse...

Raul ... deixas-me sem palavras! Sempre tive esta relação especial com a montanha ... que tem aumentado à medida que os anos passam. Quanto à capacidade de "aventura", eu ponho sempre a palavra entre aspas. É uma "aventura" relativa, um risco relativo ... como tudo na vida!
Também espero continuá-las ainda por anos :) Um grande abraço e obrigado pelas tuas palavras de estímulo.

Unknown disse...

Mais um mergulho regenerador, no Gerês de múltiplas faces, múltiplas perspectivas, múltiplos recantos e múltiplos chamamentos aos amantes da vida, em paz com a Natureza!
Gostei de ver, e de vos ver...
E o Gerês continua lá,... até à volta...
Um abraço
Mousinho

Lírio disse...

Olá amigos!!!

Foi um dos momentos altos da nossa autonomia,tivemos mesmo sorte em nos cruzarmos!!Adorei falar com vocês, são um casal formidável, só tenho pena de ter sido por pouco tempo...mas havemos de ter mais oportunidades!!

Um grande beijinho para os dois e continuem assim, um grande exemplo a seguir :)

José Carlos Callixto disse...

Também para nós o nosso encontro na serra foi um dos momentos altos das nossas "aventuras"!
Já li o teu primeiro artigo da vossa autonomia na "Cabra do Gerês "; texto e fotos que revelam a paixão pela serra ... e que tão bem compreendo. Aguardo ansiosamente o segundo dia... :)
Um grande abraço aos dois!

Anónimo disse...

Caro José Carlos Callixto,
São quase 4:00pm e amanhã (?? hoje) tenho de me levantar bem cedo... o responsável por esta "insónia" é o senhor e as "viagens e aventuras" que me proporcionou nas ultimas 6 horas (!!). Simplesmente fantástico! Muitos parabéns! Voltarei com toda a certeza para acompanhar as suas aventuras.
Um grande abraço.
A Maia

José Carlos Callixto disse...

Caro A Maia
Este tipo de "insónias" sinto-me satisfeito de ter provocado... :)
Espero que a essas 6 horas se sigam muitas mais...
Saudações caminheiras e montanheiras.